Crítica - Bailarina - Do Universo de John Wick (Ballerina)
Acho que, num pensamento que preze por uma evolução da linguagem e um avanço do sujeito que está começando a ingressar no audiovisual, existe uma percepção errônea com a experiência de um espectador que ainda não ganhou malícia e não sabe dizer como aquela tal experiência trouxe um impacto para si.
Antes de tudo, o dever do crítico é mediar e sujar as mãos, ou seja, o trabalho do crítico é resgatar aquilo que foi soterrado para um diálogo que cite como seus elementos formais se casam com os demais aspectos ou se o formalismo se escora em seu próprio mecanismo.
Tenho observado ultimamente que muitas pessoas ficam perdidas em como seu próprio gosto será construído, e minha intenção aqui também é oferecer um caminho mais breve. Pois bem, existe uma grande diferença entre emoção e qualidade formal. É claro que não há problema nenhum em se emocionar quando certos apelos tocam na ferida, mas, às vezes, esse encanto pode se misturar em distanciamento.
Quer dizer, ao invés de você entrar nas vísceras daquele universo, essa emoção está longe de conversar com a forma como um todo e que, de certo modo, chegará mais rápido em construir suas predileções.
O distanciamento brechtiano (ou efeito de distanciamento) vende uma ideia muito interessante com esse conforto mental vivido por um espectador ainda virgem e com uma experiência passiva com apelos formais. Esse conceito defende que o espectador não deve levar as dores dos personagens para si mesmo, pois isso resultaria num afastamento crítico.
E certos estilos que procuram um encaixe rítmico e frenético com as imagens sabem desse apagão e dessa preguiça, mas usam dessas fraquezas como um meio de reconfigurar os seus estímulos.
De forma alguma isso é uma crítica ao maneirismo no cinema, pois, como cada estilo é carregado por uma ideia que preze por novas ideias, também existe um lado de exploração em meio a isso, e é isso que torna a linguagem tão vasta.
E é nisso que o cinema de gênero aposta. Ele tem ciência dessa anestesia racional e torna isso uma arma atordoante e de efeito anestésico pelo ritmo que aquelas imagens carregam.
Então quer dizer que, se for levada por essa dialética, tiramos da reta a ideia da existência do ameno em Bailarina - Do Universo de John Wick (Ballerina), dirigido por Len Wiseman, onde ele faz o trabalho de ratificar a masculinização da mulher no cinema de ação.
A cena em que a Eve (Ana de Armas) exemplifica e eleva a um grau que beira ao sagrado em tatuar as costas da protagonista como um ato de consagrar para a eternidade e reafirmar que a mão sempre estará banhada de sangue.
Um pequeno, mas estrondoso contraponto de um spin-off é querer se parear com a figura central do universo compartilhado, fazendo um fan service que tem tesão pelo êxtase dos fãs. O Wiseman parece saber desse probleminha e quase acaba caindo em realçar a agilidade e os golpes do John Wick (o que torna óbvio), pois já sabemos como o Keanu Reeves é fera no soco. Só que, para preservar a aura de continuidade daquele universo que será protagonizado novamente pela Ana de Armas, quando o espectador começa a diminuir o valor daquele filme, ele remove o Reeves da tela para que não seja um protagonismo roubado.
Mesmo que ele, o Wiseman, nesse longa, se aproxime de uma veia que remova o compartilhado e traga o único, não consigo enxergar o impacto que o visível traz (principalmente das forças antagônicas). Trazendo uma ilusão que exalta o passado de um herói (como Batman), só que esses contrastes acabam indo pela sede do sangue e a outra parte se tornando um passado puro observado de uma vitrine.
E, mesmo que ele monte e desmonte um passado que conversa com alusões e vislumbres, ele apenas prepara o terreno para uma árvore que não dá frutos.
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