Crítica | Assassinos da Lua das Flores (Killers of The Flower Moon)

O povo Osage está chegando ao seu fim. Uma onda de mortes liderada por alguém que deseja as conquistas da tribo, conquistada pela fé e perseverança dos Osage. Em Assassinos da Lua das Flores, O pré-julgamento que fazemos com certos personagens é certeiro. O filme não deixa nada óbvio e visível logo de cara para o espectador. Vamos encaixando peça por peça, até chegar em uma possível conclusão, em alguns momentos podemos pensar se estamos pensando demais, Mas não. 


Adaptado do livro, Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI, de David Grann. Em seu filme Martin Scorsese nos mostra o drama da tribo Osage, que começa testemunhar mortos de membros da tribo depois do descubrimento de petróleo na região. Ernest Burkhart (Leonardo Dicaprio), um homem branco que pós a guerra vai para a tribo dos Osage, que reside o seu tio William Hale (Robert De Niro), um homem rico e respeitado pelo povo Osage. Quem está matando o povo Osage?


A ambição, sede de dinheiro e riqueza, e notório em Assassinos da Lua das Flores, principalmente por dois personagens, Ernest e seu tio William. Ernest e um ingênuo homem que toparia tudo para ser rico. Inclusive matar pessoas, seu tio é um carrasco homem que serve como mentor para a mente ingênua e ambiciosa de Ernest, dizendo para ele se casar com uma mulher de "pele vermelha", com sentido no dinheiro que os Osage lucram quando morrem. 


Em Assassinos da Lua das Flores estudamos cada personagem a todo momento. Acompanhamos a evolução de Ernest, que ao chegar na tribo Osage e um homem simples com intenções de um homem trabalhador, e vestimentas nada luxuosas, após seu primeiro ofício de taxista, Ernest começa a se vestir e andar mais "bem arrumado" podemos dizer. Podemos ver sua evolução nos chapéis que o personagem usa. 


Os 206 minutos do filme de Scorsese é um problema? Não. O estudo e evolução da narrativa e a leveza para o descobrimento de cada personagem, e algo que vai acontecendo sem preça alguma. O que adiantaria fazer um filme com um assunto tão importante e interessante, e resumir apenas em 100 minutos? Scorsese é um mestre do cinema, fico impressionado o nível de sua filmografia como é diversificada, filmes como Taxi Driver de 1976 ou Raging Bull de 1980 são obras-primas. Na maioria dos casos ou quase sempre, um diretor de cinema tem um padrão para sua filmografia, um padrão a ser seguido que se perpétua, que quando vemos uma cena ou diálogo sabemos que se trata de um filme de tal diretor, mas Scorsese se mostra diferenciado sabendo muito bem levar o tempo e imersão em Assassinos da Lua das Flores.


A ambientação religiosa e a luz carregada, escura, vegetações e ruas com tons de marrom e verde ao mesmo tempo, é uma aula de fotografia e mise-èn-scene. Scorsese mostra a todo tempo as conquistas do povo Osage de uma forma sutil e bem feita, utilizando planos abertos e ângulos de câmera conhecida como olho de Deus para mostrar as conquistas e fartura do povo Osage após a conquista do petróleo. Cenários bem Iluminados e escuros ao mesmo tempo nos traz uma sensação de limpeza, aflição e dúvidas para cada cena. 


O amor que Scorsese tem pelo cinema de sua época é posto em todos os seus filmes. Em Raging Bull, Martin utiliza a montagem para mostrar a mudança de tempo e acontecimentos, em Assassinos da Lua das Flores não é diferente. Scorsese se utiliza do contexto da época para fazer a montagem de seu filme. O modo que as pessoas são fotografadas, as roupas, carros e cenários, é imersão total a tribo Osage. 


Assassinos da Lua das Flores, não é um filme inovador em aspectos técnicos e decupatorios. Mais se diferencia aos demais na sua paciência e detalhamento para cada cena e acontecimento. O filme de Scorsese não é um filme que traz as coisas com pressa e alvoroço, que poderia cair na confusão narrativa ou a falta de interesse do espectador. Produzir um filme como este tipo de tema é muito difícil, pois a obra original se trata de algo demorado e muito bem detalhado, em acontecimentos e desenvolvimento de personagens. Ficamos a todo tempo se perguntando, quem seria o responsável pelas mortes dos Osage? Mais em quanto está dúvida paira sobre nós, nossa mente já faz um pré-julgamento, de quem seria o mandante por trás dessa história toda. O pré-julgamento que fazemos em nossa mente, não pode ser algo nulo e ignorado. Porque digo isto? Temos que ter provas e pistas concretas sobre tais acontecimentos, é como fosse um quebra cabeça, vamos juntando os acontecimentos, as feições que cada personagem apresenta com os acontecimentos, a personalidade e caráter de cada um, e podemos chegar em uma conclusão teórica ou conclusiva de algo. 


Os diálogos e o modo como a câmera se comporta, serve como uma pista para nós indenfiticarmos os mandantes dessas façanhas. Nenhum diálogo se quer, se torna vazio ou sem sentido para a narrativa do filme, por isto a duração do filme não poderia ser um minuto a menos. 


O sofrimento perante as mortes dos Osage são graças à diálogos e feições, mérito aos atores deste filme, Moolie Burkhart (Lily Gladstone) esposa de Ernest, é o modelo do sofrimento do povo Osage. Após a morte de sua irmã Anna (Cara Jade Myers), a sede por justiça, e dor pelo sofrimento que sua tribo está sofrendo fica ainda mais latente. Fazendo-a mergulhar em uma mágoa melancólica e uma frieza de alma. Uma bela e comovente atuação da atriz que com certeza concorrerá ao Oscar. 


Vejo algo muito interessante nas obras de Scorsese, a sede de justiça perante crimes e ambições. O diretor sempre utiliza temáticas motivadoras e justiceiras. Em Taxi Driver é o arquétipo perfeito para isto. Em todos os filmes de Scorsese, eu sinto que o diretor não tem medo algum de fazer algo novo e diferente do acostumado. É como se o diretor utilizasse linguagens novas para cada um de seu filme. Uma segurança e firmeza de que sabe o que está fazendo. 


A melancólia e tradições indígenas do povo Osage, é algo muito aparente neste filme. É como se Scorsese estudasse livros, artigos, tradições e crenças dos Osage. Em alguns aspectos, Assassinos da Lua das Flores me parece um pouco documental em sua fotografia. Em mostrar as tradições religiosas e culturais dos Osage. Que serve até como aprendizado para o espectador, inclusive foi muito boa e interessante minha experiência com Assassinos da Lua das Flores. O suspense criminal do filme, não chega ser monótono e mais do mesmo não. 


O trabalho que Scorsese fez de análise para cada personagem e brilhante. A evolução de Enerst, de um bom homem vindo para a terra de seu tio para uma oportunidade de emprego, e se degradando pela sua falta de malícia e ingenuidade. Seu tio William ou Rei como é chamado pelos Osage, é um homem carrasco frio e cauculista e ambiososo. Tudo é um equilíbrio, um equilíbrio de bem e o mau, a melancolia e a ambição. 


A denominação de pessoas "inferiores" apenas por se tratar de índios, e mostrada e falada inclusive por um Osage, a qualquer hora poderia aparecer alguém para querer tomar o que a fé da tribo conquistou. Sabemos que nada se mostra o que verdadeiramente é na primeira vista, a ambição e inveja que controla pessoas com sede de dinheiro, é algo que é sorrateira. Vemos tal semelhança com a política hoje em dia, em que tudo a primeiro estante se parece um mar de rosas, mas depois, vem a tona o que a pessoa estava planejando e quais são suas verdadeiras intenções com suas boas novas. 


A demora ou o temor judicial dos Osage para reagir as atrocidades que seu povo estava sofrendo, vem de uma falta de interesse pelas justiças locais que ao verem que se trata de uma tribo indígena, não dariam a mínima. O apego e empatia que sentimos pelos Osage vem de um apelo pela injustiça da humanidade perante certas etnias. Scorsese consegue novamente nos mostrar que além de um bom diretor, é um mestre no crime e suspense. Nos mostrando por meio de seu cinema que dependendo de etnias ou raças, devemos nos manifestar e se impor. 









Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon) — EUA, 2023
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Martin Scorsese, Eric Roth (baseado na obra de David Grann)
Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone, Jesse Plemons, Tantoo Cardinal, John Lithgow, Brendan Fraser, Cara Jade Myers, Janae Collins, Jillian Dion, Jason Isbell, William Belleau, Louis Cancelmi, Scott Shepherd, Everett Waller, Talee Redcorn, Yancey Red Corn, Tatanka Means, Tommy Schultz, Sturgill Simpson, Ty Mitchell, Gary Basaraba, Charlie Musselwhite, Pat Healy, Steve Witting, Steve Routman, Gene Jones, Michael Abbott Jr., J.C. MacKenzie, Jack White, Larry Sellers
Duração: 306 min.

Por: Felipe Porpino 













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