Crítica | Morangos Silvestres (Smultronstället)

Morangos Silvestres (Smultronstället) de Ingmar Bergman, é o espelho de falhas e erros que refletem sobre nossas vidas, vimos esses erros e refletimos com nós mesmos. Vale a pena seguir como somos? Ou mudar nosso caráter e nosso interior pessoal seria o trajeto correto. 

Dr. Isak Borg (Victor Sjöström), é um solitário médico e professor, que viaja em um carro junto com sua nora Marianne Borg (Ingrid Thulin), para receber uma homenagem na universidade de outra cidade. Isak é atormentado por sonhos e visões estranhas antes e no meio de sua viagem, deixando-o em dúvidas se vale a pena seguir seu caráter e suas astúcias.

Sinto algo muito reflexivo e profundo nas obras de Bergman, a iluminação quase estourada e "artificial" nos leva para um mundo novo, um mundo que não é nosso. Mais sim o mundo que o próprio diretor propôs, um mundo interpretativo e complexo como um todo. Interpretações instigantes e expressivas serve como linguagem para nos fazer mergulhar nesse mundo proposto por Bergman. Tal mundo que pode soar teatral e como um sonho ou pesadelo de nosso cotidiano. 

Os filmes de Bergman parecem e são até com um sonho. Muitas pessoas dizem que seus filmes são sem nexo ou sem sentido, mas não enxergo assim. O modo que interpretamos ou entendemos uma obra de cinema não é algo absoluto e concreto é absoluto, assim como nossos sonhos, há váriaveis interpretações e sentimentos que podemos tirar de um sonho que temos. Bergman traz isso em Morangos Silvestres, nos fazendo ter uma sensação de sonhando acordado. Como se os sonhos do doutor fossem nossos, fazermos parte dos sonhos de Isak. 

É impactante e profundo, como um filme de 1957 consegue ser tão atual ao ponto de nos fazer pensar em nós mesmos. Pensar no modo em que falamos com o próximo no nosso dia a dia, nossas falhas do passado, e o nosso ego. Colocando duas pessoas Isak e Marianne de personalidade e passados completamente diferentes em uma mesma trajetória e dentro de um mesmo objeto, um carro. 

Bergman usa a iluminação em basicamente todas as cenas, no carro, em vegetações e especificamente no seus sonhos. Que mesmo com a luz solar do dia, sentimos que o diretor usa luzes para destacar mais ainda o mundo que o filme se trata. O metódico mundo de Ingmar Bergman utiliza-se de luzes muito fortes para de alguma forma destacar ou deformar cenas e feições feitas pelos personagens, ou para criar um aspecto cinematográfico fictício e próprio para suas obras. Mesclando o horror e o autoral em seus filmes. 

Particularmente vejo Morangos Silvestres (Smultronstället), como se Bergman quisesse nos mostrar o lado obscuro por trás de algo grande, que no caso seria a medicina. Medos de uma morte que se aproxima, inseguranças de um relacionamento vazio e sem sentimentos, tal amor vazio que acarretou em uma melancolia e solidão sem fim para o doutor. Os sonhos de sua infância e sua vida adulta que são reproduzidos em sua memória. Serve como um espelho para Isak enchergar o verdadeiro velho Isak. 

Diga-se de passagem que Morangos Silvestres 
(Smultronstället), é um filme que me deixou muito reflexivo. Para meu eu pessoal, e para minha vida. A mudança de hábitos ou a maneira errada e grosseira que falamos com alguém, deve se perpétuar até o fim de nossa vidas? Os sonhos ou "pesadelos" que Isak tem de madrugada, serve como uma alerta para a personalidade grosseira e arrogante do solitário doutor. Que refletem seus traumas do passado e sua formação como médico. Os pesadelos e sonhos interpretativos de Isak, são como ajudas de seu subconsciente. Pois o doutor não percebe a gravidade de sua ignorância ao decorrer de sua vida. Seus sonhos servem como um artifício de sua mente para diminuir o ego inflado pela formação de doutor de Isak, e como uma certa cura de seus passados digamos. 

Em Morangos Silvestres, o relógio é a símbologia do tempo e da vida que resta para o doutor. Mas se levarmos isso para nosso pessoal, as horas do relógio estão passando e nossa morte se aproximando. É hora de mudar é agora. Morangos Silvestres é um filme sobre aviso, um breve aviso em formato de sonhos para um doutor com o ego totalmente nos ares, que tem sonhos enviados talvez de espíritos superiores ou do nosso subconsciente. Os avisos servem para a reflexão de nós mesmos e de Isak no contexto narrativo do filme. O tempo de nossa vida é breve e está acabando, cada segundo que passa, se aproximamos da morte. Devemos repensar de nossas ações, explícitas e implícitas. Nossos erros nos condenam, e somos condenamos por culpa. 






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