Crítica | Mussum: O Filmis

O idealismo e naturalismo, predominam em nossa cultura, desde sempre. 

A nossa luta contra os ideais da sociedade, é algo que depende de nós mesmos. Se queremos ser o que realmente queremos, ou se deixamos à ser levados pelo mundo "politicamente correto". E desperdiçando o nosso verdadeiro dom. 

Sílvio Guindane, em seu novo filme, ou filmis, narra a trajetória do comediante brasileiro Mussum (Ailton Graça) (Yuri Marçal) (Thawan Lucas), e sua jornada como músico de samba, e integrante da comédia televisiva Os Trapalhões.

O filme de Sílvio Guindane, segue na lista dos filmes que o primeiro acontecimento é usado mais pra frente ao desenvolver a narrativa. Nos dando indícios do verdadeiro peso, e motivação dramática que está por vim. 

O diretor conta de forma detalhada a infância, juventude, fase adulta e o auge de sua carreira com muita paciência e detalhamento para cada desenvolvimento de personagem. A personagem que para o mais se destaca para o desenvolvimento da história, e na vida do comediante, é a sua mãe Malvina (Cacau Protácio) (Neusa Borges), uma mãe bruta e "raiz", como dizemos. O diretor joga todo peso dramático de Mussum desde sua infância, sua mãe, uma doméstica negra, solteira e analfabeta, serve como uma mentora para o futuro de seu filho. Em uma época que negros sem formação profissional, eram taxados de vagabundos ou de cachaceiros, todo esse preconceito vinha do samba, o movimento do samba estava crescendo, não só em bairros mais pobres ou classes baixas, mais sim em todo Brasil. Um movimento que naturalmente os integrantes eram negros, um movimento muito mau visto pela vida noturna que os integrantes levavam, tal vida que envolveria mulheres, bebidas, e dinheiro, mesmo com a escassez do emprego, o dinheiro que o samba rendia, era visto como algo sujo podemos dizer. Pois estamos falando de uma época, em que a falta de recursos básicos como estudo e conhecimento do mundo lá fora, era algo muito opaco e de difícil acesso a pessoas mais pobres.

As atuações, são muito boas e verossímeis, a decupagem das cenas são fluídas e naturais, tirando o aspecto filmico do filme. A fotografia nos passa uma atmosfera de dificuldades e preconceitos de ideais "certos" para a sociedade da época. Um ponto que se repete na maioria da narrativa, o preconceito da sociedade com comediantes que acabam sendo taxados de palhaços. 

Os métodos de linguagem, propostos por Sílvio Guindane, é algo historicamente real e motivador. O diretor, propõe todo o Naturalismo da história de Mussum, em sua família, principalmente em sua mãe. Uma doméstica, que trabalha para o Idealismo. Uma mulher negra trabalhando na casa de pessoas brancas, colocando a velha frase em prática, de que a escravidão não acabou, apenas evoluiu. A descrença de que ainda vivemos em um mundo de preconceito, é posta como motivação para Mussum quando criança, que ainda se chamava Carlinhos. Sua mãe uma mulher que não teve oportunidades na sua vida, e que não aceitaria um de seus filhos terminando como ela. 

Não sinto, que todos esses ideais impostos pelo diretor são com intuito de lacrar. Mas, é muito bem utilizado como forma de drama para a narrativa. Um drama de ideais e descrença passadas, faltas de oportunidades de um mundo que a mulher é obrigada a casar logo cedo, ou por maioria das vezes acaba engravidando quando jovem, e arcando com as responsabilidades de uma mãe logo na juventude, por maioria dos casos deixando os estudos e a família para trás. Tudo isso serve, e é bem utilizado para servir como apoio emocional e moticional para uma época em que os ideais a serem seguidos era ser igual a um jogador do Flamengo, ou seja, toda a ideia lacratoria que possam cogitar sobre o filme acaba se tornando mau pensada ou ignorante. 

Mussum: O Filmis, talvez seja um temor do espectador que ainda não assistiu ao filme. tanto para quem ama Cinema, ou para quem cresceu assistindo Os Trapalhões, que o filme de Sílvio Guindane falhe bruscamente com os acontecimentos da vida do humorista. Um certo  temor com obras biográficas podemos dizer, pensamentos assim, é algo relativo e que não deve ser levado a sério para toda obra biográfica presente no Cinema. Mas, Sílvio Guindane consegue levar o espectador com um sorriso de ponta a ponta em seu filme, os atores não caem na atuação forçada ou artificial, ruas, bares e cenários, nao apenas servem como um lugar de identificação para sabermos onde está acontecendo tal ato, mas sim para reforçar a cultura presente do Brasil na época, mas também, não só o lado bom e formoso da cultura brasileira, e sim uma cultura cheia de preconceitos raciais, e culturais. Um equilíbrio de dois sentimentos, trazendo equilíbrio e leveza na trama, nas motivações dos personagens, e também em suas decisões pessoais e profissionais. 

Mostrar algo íntimo ao mesmo tempo envolvendo familiares, e algo muito inteligente da parte do diretor, pois normalmente, a família é o ponto fraco de nossa vida. Sílvio Guindane, faz o espectador se sentir motivado pela história do comediante, e motivado com seus sucessos profissionais. A ideia, de envolver algo Naturalista e Idealista, como meio de comoção emocional é uma escolha até um pouco arriscada, mas serve muito bem como meio de linguagem e de escolhas do diretor para dramatizar a trama é deixar seu filme diferente dos demais. 

Mesmo que, Mussum: O Filmis, seja um trabalho biográfico, ele poderia correr o risco de ser igual as demais obras biograficos nacionais. O diretor procura diferenciar seu filme á todo estante, os personagens se entregam ao papel, a mise-èn-scene do filme é uma unidade que é muito bem utilizada, teletransportando o espectador para aquela época, nos fazendo sentir o calor e a beleza do samba brasileiro. Mas sinto, que toda essa beleza vinda de nossa cultura no filme, serve para mascarar alguns preconceitos presentes na época. Mussum: O Filmis, é uma luta conta ideias de uma sociedade no auge de sua ignorância cultural, onde músicos do samba eram vistos como cafajestes e álcool atrás. Eis a questão, a sociedade mudou? Não. Mesmo que não queremos, a sociedade nos obriga a ser algo que não queremos. É uma luta contra o mundo e nossos sonhos, mas tudo depende de nós, se vamos enfrentar tais ideais, ou apenas ser mais um homem "comum" na sociedade. 








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