Crítica | O Raio Verde (Le Rayon Vert)
Éric Rohmes, traz algo real em uma sociedade onde o amor, pode soar clichê.
O Raio Verde, traz a verdadeira face do amor, uma face sombria, ignorante e carnal. Mas por outro lado, o amor ainda demonstra ser verdadeiro e paciente. Um certo equilíbrio de ambos dos lados, um equilíbrio da pressa e a paciência.
Publicado em 1882, Julio Verne, em seu livro titulado, O Raio Verde (Le Rayon Vert), conta a história de Helena Campbell, que estava a procura do Raio Verde, pois segundo a lenda, quem o visse encontraria o seu amor verdadeiro. Aristobulus Ursiclos, faz de tudo para conquistar o coração da jovem, mesmo que tenha que atrapalhar Helena Campbell da procura do Raio Verde.
Delphine (Marie Rivièra), é uma solitária secretária que procura por alguém para passar suas férias. Mas a solidão está sempre do seu lado, pois mesmo com pessoas ao seu lado, Delphine se sente solitária, estranha e vazia. Baseado no Romance de Julio Verne, O Raio Verde conta a história de uma mulher que ainda acredita no amor verdadeiro. Ganhador do Leão de Ouro, do Venice Film Festival 1986.
Publicado em 1882, Julio Verne, em seu livro titulado, O Raio Verde (Le Rayon Vert), conta a história de Helena Campbell, que estava a procura do Raio Verde, pois segundo a lenda, quem o visse encontraria o seu amor verdadeiro. Aristobulus Ursiclos, faz de tudo para conquistar o coração da jovem, mesmo que tenha que atrapalhar Helena Campbell da procura do Raio Verde.
A espontâneadade proposta por Éric Rohmes, nos traz uma afinidade e uma imersão para os pensamentos e gostos pessoais da personagem. É como se o cineasta de uma certa forma, pegasse todo o preconceito e pré-julgamento feito pela sociedade, e apagasse em seu filme. Deixando em foco de forma bem evidente a protagonista. A escolha de fazer planos mais fechados com o foco na protagonista, é algo que faz o espectador criar uma certa empatia e simpatia pela personagem. O uso de iluminações reais, pode parecer algo mau pensado, ou um erro da equipe, mas não. O cineasta propositalmente cria uma distorção luminosa, como uma metáfora, de uma uma luz no amor que foi apagada ao passar dos anos, ou uma falta de luz na humanidade. O diretor amarra todos esses elementos, como uma forma para nós imergir na filosofia de vida da protagonista, o realismo causa no espectador uma sensação de afinidade e empatia. Causando uma certa descrença do mundo em que vivemos, esquecemos de nossas crenças e opiniões pessoais, para viver em um mundo do "amor verdadeiro".
Uma certa busca pelo amor verdadeiro, pode soar algo provinciano nos dias de hoje. Tal estranheza refletida em "amizades" da protagonista, que a falta de confiança ou de amor próprio de passar as férias, ou viajar sozinha, soe como um pensamento atrasado e insignificante. Levando a entender que suas amizades são falsas e superficiais. O diretor consegue separar perfeitamente a personalidade de cada personagem.
Éric Rohmes, faz um calendário pessoal da personagem. Acompanhamos seus dias, e também vimos sua solidão por alguém crescendo mais e mais. À certas superstições e crenças em signos, algo que motiva mais ainda a personagem a encontrar o seu amor verdadeiro, a todo momento a protagonista mostra ser uma pessoa incrédula, sem crenças em uma força ou energia maior, sempre acreditando na vida, e o que a vida propõe para as pessoas.
O Raio Verde, nos traz uma possibilidade pessoal de acreditar, ou não em um amor verdadeiro. Um assunto taxado como ultrapassado na sociedade que vivemos, a personagem traz uma imagem "certa" de ser seguida. Uma imagem tirada das mulheres com o tempo, o mundo está repleto de oportunistas e de moças que apenas querem uma noite, e não uma vida inteira. É como se o mundo de Delphine fosse um conto de fadas, um conto de fadas em um mundo repleto e no auge da escória feminina, uma escória de mulheres que estão apenas à procura de diversão, e de mais um homem para bancar suas necessidades físicas e pessoais.
Um certo comportamento, que pode ser o câncer da sociedade contemporânea. Atrapalhando os sonhos e perspectivas de mulheres e pessoas que ainda acreditam no sentimento verdadeiro, tirando o foco de mulheres e colocando o foco em meninas. Então, a escolha de fazer algo íntimo e pessoal para a protagonista, com planos longos, mostrar a vida cotidiana da protagonista e o dia a dia da personagem, como se o filme apenas fosse o calendário do ano, e a personagem os dias.
O sentimento de inferioridade ou estranheza de Delphine, possa se parecer com o de Alvy, de Annie Hall (1977). Tais personagens mostram ser totalmente introspectivos e "insignificante" para o mundo, partilhando deste pensamento de formas diferentes, mas conseguimos ver uma pequena semelhança. Mas, os personagens tem algo diferente um do outro, a crença no amor. Uma diferença que quando pensamos, deixamos um pouco de lado as semelhanças dos personagens, e analisamos de forma individual cada um. Em uma linguagem pejorativa, pensar como Delphine, possa ser algo que atrapalhe momentos carnais de pessoas que apenas querem momentos com a carne. Tal hábito, que pode nos deixar, mais fortes e menos propensos a descrenças da nossa própria vida e decepções amorosas, ou seja, pensar e agir, com situações que apenas o que vale é a carne, sendo mais preciso, pensar como Delphine, seja algo bom e próspero pra sociedade. Claro que não vamos, e não devemos empurrar opiniões e filosofias de vida para o homem. Então, devemos olhar para nós mesmos, ao invés de pensar em pessoas que não querem nada com nada, ou simplesmente procuram diversão.
O cineasta Éric Rohmes, conseguiu nos passar muito bem o que estava proposto na obra original de Julio Verne. A vida de uma mulher que "vivia em um conto de fadas", este é o pensamento do leigo, e do ignorante. Mas, pensando em uma forma mais abrangente, a humanidade está carente e doente por decepções, decepções que causaram uma descrença e obscurantismo em sentimentos raros e verdadeiros. O Raio Verde, traz a verdadeira face contemporânea do amor.
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