Crítica | Oppenheimer

 Christopher Nollan, explora os limites de onde uma genialidade pode chegar, o resultado, pode ser uma coisa boa ou destrutiva. 
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Se um gênio é ingênuo, o resultado é algo destrutivo e ofensivo para a humanidade. Transformando o mundo que poderia ser um lugar próspero, em um mundo destruído, Oppenheimer mostra o quão perigoso pode ser uma mente brilhante em um mundo de guerra. 


Um drama adaptado do Livro de Kai Bird e Martin Jay Sherwing, ao triunfo a trajedia, sobre a criação da primeira bomba atômica. Liderado pelo físico, J. Robert Oppenheimer (1904 - 1967). Uma biográfia que 18 anos mais tarde serviu como inspiração para o diretor Christopher Nolan, trazendo a biografia do físico, para as telas de cinema.


A obra biografica adaptada, mostra a trajetória do físico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), pioneiro e criador da primeira bomba atômica, O drama biográfico mostra as consequências que a genialidade pode nos propor, e como tal genialidade pode destruir com nossas vidas, e destruir vidas. 


Oppenheimer, é uma prova, de que tudo que temos de bom para doar a humanidade, genialidade, teorias novas sobre o universo e o mundo em que vivemos, tudo isso pode haver consequências catástroficas e ofensivas para o mundo, e principalmente para nós mesmos.


O julgamento final pode cair somente para o nosso lado. E que somos os responsáveis por nossas ideias e erros cometidos. Podemos pensar, que cada um dos envolvidos teve pelo menos %1 de culpa do ocorrido, mais para a imprensa sensacionalista e a justiça, não. O verdadeiro culpado de tudo é o criador, é como se um agricultor em período de seca reclamasse com Deus, o porque não está chovendo em sua horta, a criatura questionando o criador, ou seja, a falta de paciência é nossa, mais a culpa é sempre jogada no criador. Christopher Nolan, à todo momento mostra como o julgamento está em peso nas costas do físico, o drama não está apenas na história narrada, mas está também como a mise-èn-scene está posta, a unidade estilística, tem o poder do espectador sentir na própria pele, na pele das vítimas de Iroshima e Nagasaki, e na pele do próprio físico. A penitência pode ser visível nas vestimentas de Oppenheimer, que antes usava peças mais claras, mas após a tragédia causada pela bomba, o doutor usa peças escuras e pretas, nos fazendo entender que sim, ele sofreu com tudo isso. E que seu luto e arrependimento, é manifestado por suas vestimentas. 


Os personagens se comportam e dialogam entre si, de uma forma intelectual e fina. Mas, toda a  intelectualidade e classe dos diálogos e cenas, é cortada por ventura trágica. Nolan, não passa pano em nenhum momento para os envolvidos. As vítimas, os traidores e os cientistas, são julgados de forma individual, ou imparcial podemos dizer. Mas, sabemos que todo peso e culpa, cai em quem começou tudo isso. 


O cineasta, joga o peso dramático nas costas de Oppenheimer. O modo como tudo é enquadrado e filmado. Nos passa um certo sofrimento e castigo com a situação que o físico se encontra, as cores quentes no filme realsa a ideia que uma bomba destruidora de mundos está sendo criada, fazendo o espectador sentir aflição, ansiedade e medo do que está por vir. 


Oppenheimer, de Christopher Nolan, é uma verdadeira aula de como uma obra biográfica deve ser construída. A narrativa e a trama, viaja em flashbacks do passado, presente e futuro da vida do doutor, causando uma certa confusão para o espectador, o preto e branco usado em partes das cenas do filme, é utilizado como um meio de identificação, é como se quando vimos que aquela cena é em preto e branco, reconhecemos o assunto que está sendo passado, através das cores. Ofuscando a confusão sentida pelo espectador. Mas, a "confusão" sentida por nós, é algo cotidiano e completamente biográfico para aquela obra. É como os acontecimentos dinâmicos, inesperados e graves de nossas vidas, Nolan, nos passa o dinamismo de uma vida confusa, de acontecimentos causados pela genialidade de uma mente em plena a Segunda Guerra Mundial, por meio da montagem e narrativa de seu filme, ou seja, toda essa confusão que possamos sentir, é algo mau pensado, e mau interpretado por nós mesmos. 


Mas, sinto que tudo isso é proposital. A vida de Oppenheimer foi uma confusão, traições, ingenuidade e genialidade, são coisas que não podem se juntar, pois resultará em fracasso e destruição. Suas relações com as mulheres nunca foi algo recíproco e pleno, a falta de zelo de ambos dos lados, poderia acabar à qualquer momento. O sentimento apenas pela carne uma hora ou outra acaba, e o que sobra, é se o amor é ilusório ou verdadeiro. 


A ingenuidade de Oppenheimer, é algo que dificulta certas decisões importantes, decisões pessoais e decisões do projeto Manhattan. Se temos um poder em nossas mãos, podemos ter êxito, ou podemos fracassar. Temos que ficar em alerta e atentos para certas decisões que tomamos, Oppenheimer, foi um gênio que não soube compreender a responsabilidade e o perigo que ele e o mundo estava prestes a correr com algo tão grandioso e fatal. J. Robert Oppenheimer, foi uma das mentes que raramente o homem poderá ver denovo, mas nem tudo são flores. A "fórmula da genialidade" caída em mãos egoístas e aproveitadoras, pode ser um caminho sem volta para o mundo. 


Uma bomba atômica, é algo completamente destrutivo para a humanidade e para o mundo. Nolan, foi ousado em escolher e mostra como mostrar cada acontecimento da vida pessoal e profissional de Oppenheimer. Um gênio que não soube aproveitar de forma produtiva sua genialidade, um dom que acabou em sangue. Impactando de forma trágica a vida de cada família e vítimas do atentado. Mas, o cineasta não fica apenas na criação da bomba atômica, mas sim o pós bomba atômica. Podemos dizer que além de Oppenheimer ser uma obra biografica, é também um filme de julgamento. 


A pressão está a todo momento em Oppenheimer. O cineasta pressiona à todo instante o físico, com alucinações e visões de pessoas o julgando pelo seu atentado, atormentam o físico após a anunciação de que Iroshima e Nagasaki foi destruído e pessoas foram insineradas. As visões de um mundo inexistente até aquele momento, atormentam a vida de Oppenheimer desde sua juventude, com visões de um universo nunca visto por ninguém. 


O uso de efeitos práticos anulam todas as possibilidades que podemos cogitar de cenas que poderiam ser feitas com o uso de CGI, uma marca da filmografia de Christopher Nolan. Um fã e adepto de efeitos visuais práticos em seus filmes. 


Mesmo que, Oppenheimer tenha uma proposta e uma temática totalmente diferente dos filmes de Christopher Nolan, ele ainda tem a identidade do diretor, na decupagem e na atmosfera do filme. Ainda fazem nos remeter a trilogia do Batman, dirigida pelo cineasta. 


Oppenheimer, de Christopher Nolan, não é um filme para enaltecer o físico ou tentar diminuir a gravidade dos acontecimentos causados. Mas sim, um filme de causa e consequências, J. Robert Oppenheimer, foi um gênio. Suas teorias eram sim, além de sua época e além do mundo. A ingenuidade e a falta de malícia que o físico tinha, resultou na "destruição de mundos", a bomba atômica. Um homem bom, que não soube aproveitar sua genialidade para algo bondoso e próspero para o mundo. Criando a fórmula matemática da destruição de cidades, e morte do justo e do injusto. Doando aos homens, a fórmula da morte em massa. 








Oppenheimer (EUA, Reino Unido, 2023)
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Kai Bird, Martin Sherwin
Elenco: Cillian Murphy, Emily Blunt, Robert Downey Jr., Kenneth Branagh, Florence Pugh, Matt Damon, Rami Malek, Casey Affleck, Gary Oldman, Dane DeHaan, Alden Ehrenreich, Scott Grimes, Jason Clarke, Kurt Koehler, Tony Goldwyn, John Gowans, Macon Blair, James D’Arcy, Harry Groener, Tom Conti, David Krumholtz, Matthias Schweighöfer, Josh Hartnett, Josh Zuckerman, Dylan Arnold, Emma Dumont, Jefferson Hall, Britt Kyle, Louise Lombard, Matthew Modine, Gustaf Skarsgård, Danny Deferrari, Devon Bostick, Christopher Denham, Máté Haumann
Duração: 180 min.

Por: Felipe Porpino 



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