Crítica | Encontros e Desencontros (Lost in Translation)
Sofia Coppola, propõe um teste para o amor. Um teste onde envolve casamento e a idade.
Antes de tudo, Encontros e Desencontros (Lost in Translation), é um filme muito ambíguo com à sua intenção narrativa. Mas, Sofia Coppola, consegue muito bem contornar um certo fetiche que poderia ser motivo de escândalo para uma sociedade mais conservadora. Ao invés, de rechear o filme com cenas explícitas e sexuais, que poderia tanger apelativo e massivo, à cineasta faz um trabalho mais íntimo para os personagens, à câmera narra à vida dos personagens com muita leviandade, podendo soar como um documentário, isto resumiria bem o filme, Encontros e Desencontros, documenta os dias de duas pessoas com perspectivas de vida totalmente diferentes. A ambiguidade íntima, é algo completamente dominante no filme da cineasta.
O filme, partilha de uma manipulação íntima, uma manipulação narrativa que cativa o espectador. E tudo isto, é graças aos métodos que a cineasta optou para trazer este aspecto documental para os personagens, uma câmera na mão, sempre próxima as feições e ações dos personagens, nos traz uma sensação muito mais particular e íntima para os personagens. Todos esses elementos, formam uma espécie de bolha na vida dos personagens, o hotel e a cidade, se tornam essa barreira para um amor impraticável, um amor que se torna platônico em algum sentido.
Bob Harris (Bill Murray), é um ator que está na cidade de tokio à negócios. Charlotte (Scarlett Johansson), é uma jovem que é casada com John (Giovanni Ribisi), um fotógrafo. Bob e Charlotte, trocam flertes enquanto estão hospedados no hotel. Encontros e Desencontros, é um filme sobre um amor impedido, por meio de casamentos infelizes vivido por ambos.
E de fato, é uma barreira totalmente predominante no longa. Onde duas pessoas vivem em relações infelizes, mas que acabam se apaixonando. E por meio do casamento, todo esse amor que soaria banal, é barrado. De modo implícito, o problema central, é todo o conservadorismo que envolve o casamento, um casamento amargurado e cheio de fraturas. A diretora Sofia Coppola, utiliza esse conservadorismo como um obstáculo para os personagens, e como um certo teste de como a fidelidade irá se sobressair em meio à tudo isso.
Podemos considerar, Encontros e Desencontros, como um filme de narrativa fria. O filme, conta com uma atmosfera azulada e gélida em sua fotografia. É como se esse artifício fizesse parte da vida e dos pensamentos vazios dos personagens, em meio à uma cidade repleta de cultura e lugares novos, como o Japão. E tudo isso, faz sentido pelo que o filme é, a cineasta utiliza toda à mise-èn-scene e a cidade, como forma explorativa para os pensamentos dos personagens. As cenas, transpassa um aprisionamento vivido pelos personagens, um sentimento que impede à felicidade alheia.
Eu consigo ver, uma situação de teste entre duas pessoas no filme. Como se todas as situações, desde o primeiro flerte, fosse algo de teste para algo tão sério e sagrado que é a união entre duas pessoas (casamento). Bob, é casado com sua esposa à 25 anos, já Charlotte, é casada com Jhon à 2 anos. À diferença de tempo comparado aos dois e brusca, diferença no casamento e diferenças de idade. E a cineasta também utiliza desse ponto para problematizar a trama, a idade. Bob, é muito mais velho que Charlotte, e isso é mais um ponto que atrapalharia o relacionamento.
Encontros e Desencontros, poderia partir de uma cartilha romântica clichê, mas o desfecho tira bem este aspecto que soaria para o filme. À comédia, é uma quebra de sentimentos frios e solitário dos personagens, que é algo bom, para o filme não acabar sendo um romance melancólico típico de clássicos hollywoodianos. Mas, considero o filme da cineasta como uma das primeiras obras-primas do século XXI, um marco do cinema contemporâneo, foi um filme sobre um romance platônico.
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