Crítica | O Vento nos Levará (Bad ma ra khahad bord)


À sutileza, e a profundidade significativa, é uma marca registrada da filmografia de Abbas Kiarostami. 
                                      
Por mais que, os filmes do diretor Abbas Kiarostami possa soar "simples" em algum sentido, este pensamento até pode ser válido. Sua simplicidade está na sua mise-èn-scene, uma unidade totalmente carregada de signos interpretativos. Fazer um bom filme não é apenas se garantir em sua mise-èn-scene, e sim o modo como está unidade será usada, casando contextualmente com o enredo do filme. E mesmo que, O Vento Nos Levará (Bad ma ra khahad bord), possa soar minimalista em algum sentido, o seu minalismo resulta em ótimo filme. Insumo, a sutileza levada no filme, acaba levando o espectador à um estado meditativo profundo, sobre as concepções do protagonista, e nosso modo de enxergar o mundo. 

No filme, somos convidados à sentir um pouco da cultura local. O cineasta ao mesmo tempo que narra o objetivo do protagonista, com uma suavidade muito singela e cultural, o filme documenta as culturas daquele povo, ou seja, o filme faz uma gangorra narrativa, pois duas perspectivas são narradas com muita perspicácia podemos dizer. A câmera é muito objetiva com aquilo que quer ser mostrado, os planos médios, e planos gerais, enquadram o ambiente e às ações que são feitas no simples vilarejo. 

Behzad (Behzad Dorani), é um engenheiro (repórter), que está com sua equipe em um vilarejo para uma matéria jornalística da provável morte de uma das mulheres mais velhas da região. Abbas Kiarostami, faz um filme íntimo e profundo em seus significados e doutrinas espirituais. De um homem sem empatia alguma por aquilo que é criação de Deus. 

Assim como, Gosto de Cereja (1997), Abbas Kiarostami, faz um trabalho "humilde" e minimalista, mas o seu poder significativo que seus planos carregam, é algo completamente intrínseco se pensarmos pelo lado espiritual. Kiarostami, é um cineasta que não precisa de muitos recursos para fazer um bom filme, uma câmera, uma paisagem árida e um vilarejo, é o suficiente para acabar resultando em um grande  filme. O uso de atores amadores, é algo muito presente nos filmes do diretor, e que também reforça alguns aspectos que precisam soar verossímil e espontâneos, as feições e marcas deixadas pelo trabalho árido e árduo, estão presentes nos rostos dos atores sem ao mesmo o uso de maquiagem, é como se a própria "maquiagem" dos atores fossem suas reais cicatrizes deixadas por uma vida difícil. 

O filme nos trás uma leveza muito sentimental e destiosa, mas ao mesmo tempo que essa dificuldade vivida pelos habitantes é mostrada, o filme realsa uma felicidade vivida em meio à tudo isso. Em um olhar desacostumado com uma vida difícil, podemos imaginar que a dificuldade que para nós e significativa, para o próximo este sentimento possa ser o mesmo, mas não. O longa mostra o quão prejudicial pode ser uma vida fácil, Behzad é um homem da cidade, ou seja, podemos pensar que sua vida foi dotada de privilégios, e quando o protagonista se depara com uma perspectiva totalmente diferente da sua, aquilo pode ser um choque de realidade, um povoado carente de bens materiais, mas que ainda não perdeu a sua humildade espiritual. 

Kiarostami, ainda se prende na decupagem de, Gosto de Cereja (1997), close-up médio dentro de um altomovel, planos gerais extremos com Voz Off, ou seja, podemos dizer que ambos das obras, estão de uma certa fora entrelaçados em um mesmo parâmetro. A sutileza que que os planos gerais que, Gosto de Cereja, transmite, ainda prevalece no filme, algo que deixa o espectador em um estado meditadivo reflexivo. Somos deixados à ser levados por cada pensamento implícito e diálogo dos personagens, como se cada segundo que se passa ficamos mais próximos de seus pensamentos e ações. 

E por meio dos elementos da linguagem, o filme traz uma profundidade moral muito grande. A montagem e a decupagem são elementos da linguagem que realsa de uma certa maneira para o espectador conseguir decifrar os significados que estão acontecendo, mesmo de forma implícita. O filme poderia cair apenas em um documentário tedioso e maçante, mas o cineasta recusa à ideia de que possivelmente seria algo "comum", e por meio dessas linguagens conseguimos desvendar e compreender certos pensamentos negativos e escondidos em uma mente sem empatia com o próximo e com a natureza. 

Também podemos levar em conta, que o filme é uma bela crítica social. Behzad, um homem que está na espera da morte de uma idosa, apenas por uma reportagem, reportagem essa que irá acarretar fama aos envolvidos da matéria. Em última análise, o filme crítica alguns pensamentos e concepções espirituais do protagonista, um homem materialista e cego por não enchergar nenhuma beleza humana, que por ironia do destino, ou por ironia de suas obsessões, acaba ficando dias e semanas em uma aldeia de pessoas humildes e de caráter. De uma certa forma, tudo isto serviu como um aprendizado moral para o personagem, que no começo de filme se mostra ser totalmente preso à coisas terrenas, e que no final acaba se desapegando desses pensamentos inúteis. 

E sua mensagem final resulta nisso, um convertimento de atos e pensamentos humanos. Por meio de uma decupagem e uma narrativa sutil, o cineasta Abbas Kiarostami, explora mais uma vez à psique humana, com elementos de obras anteriores e que funcionam muito bem para o real proposto no filme. Kiarostami, mas uma vez por meio de sua filmografia um aprendizado moral, cultural e espiritual. 







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica - Bailarina - Do Universo de John Wick (Ballerina)

Crítica - A Cor do Dinheiro (The Collor of Money)

Crítica - Depois de Horas (After Hours)