Crítica | Pai e Filha (Late Spring)
O conservadorismo social, é algo muito presente em Pai e Filha. Yasujirõ Ozu, constrange o espectador por meio de atos tomados de uma sociedade "correta".
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Pai e Filha, Traz um assunto muito conservador em nossa sociedade, o casamento forçado. Podendo causar um certo temor ou trauma no futuro do indivíduo, Yasujirõ Ozu, nos mostra e interpõe à real felicidade da personagem, com a felicidade dos outros, ou seja, o que predomina em Pai e filha, não é a felicidade da personagem, e sim a felicidade dos demais. Shukichi Somiya (Chishū Riū), é um professor que mora com sua filha Noriko Somiya (Setsuko Hara), sua única filha que ainda não se casou, mas Noriko vive uma pressão psicológica em que para sua idade o "certo" deveria sair da casa de seu pai, e se casar. Yasujirõ Ozu nos convida à uma uma imersão cultural, mas o assunto dominante, é o drama, ou a pressão trazendo para o cinema novamente o politicamente correto.
Pai e Filha, por meio dos enquadramentos nos convida de uma forma muito bem articulada e imaginada para sua cultura, por meio de seus planos e angulações de câmera, um deles é o plano tatame. Uma câmera abaixo da linha do olhar de quem está no enquadramento. Considero como um invite para o espectador, para que tenhamos uma experiência muito mais expressiva e imersa sem deixar de fora as origens culturais orientais. Uma forma de fazer um cinema identitário, trazendo as origens culturais como algo novo para o leigo, tornando o filme como um meio de estudo cultural, uma janela de conhecimento para o desconhecedor.
Ozu, faz um trabalho bem enaltecedor para os orientais. Mostrando locações, ruas, estradas e a natureza, como forma de fortalecer e embelezar à cultura de seu povo por meio da decupagem. Interpreto a decupagem que Ozu admoesta em Pai e Filha, como se Noriko tivesse que desbravar e conhecer o mundo lá fora, um mundo longe da convivência com seu pai, os planos gerais que mostram pássaros voando sobre o céu reforça muito mais este pensamento, em que a jovem tem que ser livre um dia, mesmo que sua felicidade é estar com seu pai, mas o "correto" à ser feito seria a personagem voar para o mundo, ser livre para o correto.
Gosto muito do metodismo que Yasujirõ Ozu tem em sua filmografia, fazendo por maioria dos planos, um quadro dentro de um quadro, por meio da beleza e destreza de Ozu perante as câmeras. É um fato, em que o metodologia que o cineasta adquiriu para seus filmes é essa, uma câmera estática, planos gerais que enquadram os personagens como parte do cenário, ou seja os personagens vivem aquele acontecimento e aquele momento, nossa mente é treinada pelo modo que os atores estão postos nas cenas, isso causa à nós uma sensação imersiva e realista, fazendo esquecer que estamos vendo à um filme. Esse esquecimento não é um esquecimento tão profundo, os atores atuam de uma forma não tão verossímil, mas isto não é um problema. Quando se trata de um filme verossímil, vimos de forma óbvia em sua premissa, trama e narrativa, ou seja, essa não foi a intenção dramática que Ozu queria para a narrativa do filme. Pai e Filha, não é um trabalho verossímil, e sua intenção não é essa, pois se trata de uma adaptação de um romance.
Pai e Filha, traz uma inspiração conservadora e idealista da sociedade. O "politicamente correto", à ideia de que uma mulher deve se submeter a pressão de uma vida sem um homem, o casamento arranjado, tirando a pureza do verdadeiro significado de um casamento, pois essa é a intenção de um casamento, um amor construído por paciência, companheirismo e respeito, mas não é o pensamento de muitas pessoas. Em Pai e Filha, o casamento se torna algo obrigatório e utópico, como se aquilo fosse algo certo e idealista para ser seguido, seguindo os princípios gerais de uma sociedade "correta", sem trazer os pensamentos individuais do indivíduo, ou seja, Noriko vive pela felicidade dos outros e deixando o seu querer por conta do próximo.
Noriko, nos passa uma conduta de servilismo para os demais, a personagem está sempre submissa as vontades de sua família e as vontades de seus amigos. Sentimos que a personagem não tem opinião e vontade própria de sí mesma, vivendo uma vida controlada por outras pessoas, uma vida monótona e vivida pelo próximo.
Yasujirõ Ozu, com certeza serviu de referência e inspiração para cineastas anos depois, um deles é Stanley Kubrick, o diretor traz uma pequena lembrança ao modo em que Ozu fazia seus filmes, planos estáticos, e detalhes semioticos muito sutis em alguns aspectos, nos remetem a filmografia de Yasujirõ Ozu.
Insumo, arrisco dizer que Pai e Filha é uma das obras-primas de Yasujirõ Ozu. O cineasta consegue entregar elementos próprios de sua filmografia, trazendo um tema conservador e idealista, algo autoral e presente no mundo que vivemos. É por isso que Pai e Filha, é um filme que envelheceu muito bem, pois este pensamento conservador ainda permeia a sociedade contemporânea. Devemos seguir a nossa felicidade? Ou a felicidade dos outros? Pensando no futuro, o casamento é algo que e sim muito importante, através dele reproduzimos nossas próximas gerações assim expandindo ainda mais à nossa espécie. E por outro lado podemos viver nossa vida como queremos, apenas se importando com nossa felicidade e deixando de lado o futuro de nossa espécie, um pensamento bem egoísta e impiedoso pensamos. Noriko, apenas esta se importando com o bem estar próprio que terá ao lado de seu pai, e deixando de lado a expansão da família fruto de um casamento entre marido e mulher. Não podemos pensar como a personagem, um pensamento que pode ser o causador da diminuição da espécie humana.
Pai e Filha (Banshun – Japão, 1949)
Direção: Yasujiro Ozu
Roteiro: Yasujiro Ozu, Kôgo Noda (baseado em romance de Kazuo Hirotsu)
Elenco: Chishū Ryū, Setsuko Hara, Yumeji Tsukioka, Haruko Sugimura, Hohi Aoki, Jun Usami, Kuniko Miyake, Masao Mishima, Yoshiko Tsubouchi, Yōko Katsuragi, Toyoko Takahashi, Jun Tanizaki, Yōko Benisawa
Duração: 110 min.
Por: Felipe Porpino
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