Crítica | A Margem

O surrealismo nacional de Ozualdo Ribeiro Candeias. A Margem (1967), contrasta ideias espirituais e sociais com muita sutileza. Mas, Há beleza em uma vida em meio à miséria?

Ainda que o longa dirigido por Ozualdo Ribeiro Candeias partilhe de certas noaces realistas, consigo ver uma atmosfera surrealista em meio a tudo isso. Antes de tudo, A Margem (1967), remeteu à obra-prima de Ingmar Bergman, O Sétimo Selo (1957). Um surrealismo intrigante de uma vida que está cada vez mais próxima da morte. Mas, aqui temos um trabalho muito mais incógnitivo e melodramático. Em suma, o longa é aquilo que só sabemos uma resposta final apenas em seu último minuto. Essa falta de respostas, é algo que prende o espectador na cadeira do cinema até os minutos finais da obra. Eu acho que funcionou bem à ideia que Ozualdo Ribeiro Candeias desejou transpassar em seu filme. O intimismo sedutor sexual, abre brechas para reflexões sociais, culturais e espirituais de uma sociedade esquecida pelo sistema.

A Margem (1967), pode ser considerado uma obra minimalista em alguns aspectos. A escassez demasiada de diálogos, é algo imperceptível se levarmos em conta as atuações que por sí só, já entregam inúmeros parágrafos que linhas e linhas de diálogos não seriam capazes de descrever. Podemos dizer que o silêncio do filme diz mais do que mil palavras jogadas ao léu. Este minimalismo é um elemento que faz o espectador associar rapidamente ao longa dirigido por Candeias, quando falamos em um filme relativamente simples e minimalista em diálogos, estamos falando de A Margem (1967).

É triste à que ponto chegamos. Morei na cidade de São Paulo na minha infância, sempre perguntava para minha mãe o porquê o Rio Tiete cheirava tão mau, ela me dizia que era por causa de nós mesmos. Então, cresci com essa concepção de que onde à limpeza, o ser humano está sempre lá para deixá-la poluída. É lamentável ver um filme onde o cenário central se localiza em um local inabitável para o ser humano nos dias de hoje. Isso mostra o quão prejudicial estamos sendo para o meio ambiente. Estamos falando de uma obra cinematográfica de 1967, em menos de um século conseguimos conspurcar algo vivido e benéfico para população brasileira. 

Está cronologia temporal faz o espectador transitar entre uma decadência social e entre décadas e décadas, fazendo-o refletir sobre à evolução civil e social durante os anos. Nos dias de hoje, é praticamente obrigatório assistirmos ao filme de Candeias, principalmente em salas de universidades de cinema, tal coisa que fará o aluno à repensar em certos atos tomados que envolvem o meio ambiente. Em suma, A Margem (1967), serve como um belo aprendizado metidativo social para a contemporânedade. Mas, à força central e linguística do filme, está também em sua decupagem semiotica. 
 
Acho interessante como a decupagem do longa propõe diversas sensações e ilusões óticas, e um certo ar persuasivo e sedutor. O filme procura promover uma sedução muito evidente em seus planos. É até engraçado como o longa mescla da marginalidade social e a beleza florescente de uma humilde flor, como se aquilo fosse algo de extrema importância em uma região escassa de beleza social. Mas, temos um contraste com a beleza de uma humilde mulher, uma humilde beleza que procura ser evidenciada por meio de planos gerais e close-ups. O flerte com um melodrama sedutor e desgovernado, funciona como parte de uma unidade estilistica que adentra na atmosfera filmica.

Antes de penetrarmos à esta atmosfera onírica, é preciso dizee sobre à cartilha melodramática do longa. As atuações precisam sim! Ser escrachadas e exageradas. Assim, trazendo uma transparência de significados à serem decifrados por partes individuais do quebra-cabeça. Em segundo ponto temos a transparência narrativa, o filme não procura trazer uma história coesa, a coesão estará sendo formada por nossa capacidade interpretativa. No cinema, não há desfechos verídicos à serem decifrados, cada caso é um caso, devemos esquecer concepções e filosofias pessoais e pensarmos de forma individualista para cada obra cinematográfica. Pessoalmente, tenho em mente que o cinema é um exercício mental e semiotico, neste caso, A Margem (1967), partilha perfeitamente com este pensamento pessoal.


Considero A Margem (1967), como uma obra que abre lacunas sociais e civis à serem destrinchadas e discutidas novamente. Algo que leva a polêmica e controversas. Um bate-boca saudável e conciente, é algo benéfico para trazermos novas ideias à serem colocadas em práticas em prol à sociedade brasileira. 





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