Crítica | Um Corpo que Cai (Vertigo)


Jhon 'Scottie' (James Stewart), um detetive que padece de acrofobia e vertigem, causada por seu passado como investigador, onde seu parceiro de equipe se desequilibrou e caiu de um prédio em uma perseguição criminosa. Tempos depois, Jhon investiga o estranho comportamento da esposa de Gavin Elster (Tom Helmore), a jovem Medeleine Elster (Kim Novak), que está “possuída” pelo espírito suicida de Carolotta Valdez. 

Minhas mãos estão suadas até agora! Antes de começar esta crítica, quero dizer que Um Corpo que Cai (Vertigo) intercala sentimentos obsessivos e psicológicos em uma atmosfera onírica melodramática. Costumo dizer que o cineasta Alfred Hitchcock criou um mundo próprio noir hollywoodiano para utilizar e reutilizar em sua filmografia. Arrisco dizer que Um Corpo que Cai (Vertigo) é um dos melhores Thrillers da história da sétima arte. Sem sobra de dúvidas, Hitchcock foi um mestre absoluto do cinema. Aqui temos um filme sobre fissuras causadas por um passado traumático, e um amor louco obsessivo, e que suas vestimentas são cobertas por mentiras e reviravoltas motivados por uma vertigem passada. Um Corpo que Cai (Vertigo), não é apenas um mero suspense de caráter hollywoodiano, e sim uma história de causa e consequências, ou obsessões e consequências. 

É interessante como o cineasta utiliza as cores no longa para criar um espaço apaixonante, apenas utilizando a psicologia das cores. Em Um Corpo que Cai (Vertigo), a utilização da cor verde é muito presente em elementos de mise-èn-scene. Normalmente, usamos uma cartilha para desvendar sentimentos por meio da psicologia das cores no cinema. Aqui temos o verde simbolizando uma forte paixão, e que naturalmente tal sentimento é transpassado por tons de vermelho. Hitchcock, se distância desse pensamento que prende os nossos sentimentos conceptivos, e cria algo novo de algo existente.


Para os “Felizardos” que sofrem do famoso medo de altura, o longa trará belos embrulhos no estômago a quem assiste. A câmera take “zoom out and track in”, criada por Irmin Roberts, foi a causadora de trazer a vertigem ao público. Algo que usamos até os dias de hoje, como o clássico blockbuster de Steven Spielberg, Tubarão (1975), e o curta-metragem de Michael Jackson, Thriller (1982). Algo que não era creditado, foi útil para o futuro do audiovisual. 

Um Corpo que Cai (Vertigo), traz cenas com planos muito opacos e quiméricos, uma opacidade causada por um amor desgovernado e de sentimentos traumáticos do passado. É interessante como o cineasta explora a cidade de São Francisco para causar uma atmosfera fantasmagórica e ilusionista. Os personagens são articulados e desenvolvidos em torno de ruas e becos da cidade, e pela premissa do filme, todo esse desenvolvimento de personagem se torna sombrio e obscuro. Alfred Hitchcock foi um metódico cineasta que foi mestre em fazer suspense. O longa dirigido pelo diretor talvez seja um de seus filmes mais oníricos em sua filmografia. Mas, estes sentimentos de ilusões melodramáticas são encaixados em uma atmosfera autoral própria. 


Eu consigo ver uma ordem de atos friamente calculados na filmografia de Hitchcock. Uma separação metódica perfeccionista de atos, pois percebemos perfeitamente a troca de atos do primeiro para o segundo e para o terceiro. E isto é perfeito para o espectador acompanhar a troca de atos, aumentando a percepção narrativa que a obra proporciona. Em suma, podemos definir Um Corpo que Cai (Vertigo), um longa que separa seus atos com perfeição, e que seu resultado resulta em uma obra-prima. 

No longa, temos uma mistura de vários tipos de cinemas, que no filme formam um conjunto de fatores. O filme conta com uma decupagem que nos remete ao road movie, em cenas em que somos o detetive que está investigando uma bela moça que está “possuída”, e cenas em que nos tornamos o sujeito apaixonado e obsessivo por um amor contornado por mentiras. Hitchcock, além de ter sido um grande cineasta, também foi um grande manipulador. Praticamente, nos tornamos o protagonista e, da mesma forma que os personagens são manipulados, também somos. Isto é genial para causar uma experiência imersiva total com a obra. Um Corpo que Cai (Vertigo), é um filme que nos manipula a cada segundo. 


Em última análise, a montagem justaposta é algo que ajuda a decifrar fatos. Percebemos as feições estranhas e duvidosas dos personagens no início para, no final, juntarmos as peças deste quebra-cabeça. Afinal de contas Um Corpo que Cai (Vertigo) é um quebra-cabeça criminoso, um crime fantasiado de amor em forma de vertigem. 

Se prestamos atenção, à filmografia de Alfred Hitchcock, é uma filmografia de temas lúdicos e ilusórios, uma diferença do cinema noir tradicional. E mesmo que as obras de Hitchcock sejam “diferentes” do cinema noir costumeiro hollywoodiano, ainda conseguimos ver tal identidade audiovisual. Um Corpo que Cai (Vertigo) soa como um sonho lúdico que sonhamos em nosso cotidiano. O longa, baseado na obra literária D'Entre Les Morts, escrito por Pierre Boileau e Thomas Narcejac; se parece com uma ideia conceitual que foi formada a partir de um sonho noturno em uma noite sombria. 

Em poucas palavras, eu diria para o leigo que Um Corpo que Cai (Vertigo), é um filme de como um suspense deve ser desenvolvido a partir de uma narrativa de quebra-cabeças. Se torna “vergonhoso” um filme de 1958 ser referência para filmes na contemporaneidade, isso mostra que estamos passando por um bloqueio criativo, ou uma escassez de criatividades cinematográficas. Isto é algo desanimador presentemente para a sétima arte. Talvez, nunca mais teremos um cineasta com a genialidade de Alfred Hitchcock. 








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