Crítica - Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa)


O clichê imprevisível de Wong Kar-wai. À utopia do encontro foi uma linguagem pioneira na virada do milênio para à sétima arte.

Particularmente, tenho um apresso muito significativo por obras literárias e cinematográficas que abordam sem temor algum atmosferas e filosofias ambíguas. Neste caso, o indivíduo irá tirar suas próprias conclusões e percepções. É um fato que o mundo está mudando à cada segundo. Não sabemos se tal expressa mudança será benigna ou maligna para o futuro do homem, mas, procuramos viver nossas vidas da melhor maneira possível. Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa), é uma das obras mais importantes quando falamos do melodrama na sétima arte. Sua importância filosófica em meio à um caos mundano, é o seu poder contemporâneo à ser confrontado por vários pontos de vistas díspares. Wong Kar-wai não faz vista grossa para nenhum dos lados, e sim, abre lacunas à serem discutidas e examinadas. 

Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa),
é uma obra colonizadora do melodrama romântico no cinema contemporâneo. O filme dirigido por Wong Kar-wai será levado ao limite da saturação melodramática  de duas pessoas que se apaixonam perdidamente, mas estão encurraladas por um relacionamento tóxico e contornado pelo pecado. No longa, o conservadorismo brigará sutilmente de forma invisível contra a perversão em um manejo narrativo que envolverá à sedução, a persuasão e certas dúvidas que envolve a união entre duas pessoas (casamento). Eu arrisco dizer que à grande sacada implícita que está mergulhada no filme de Wong Kar-wai, será uma ambiguidade filosófica que envolverá dúvidas que são causadas pelo forte sentimento e conexão entre duas pessoas. E mesmo em um casamento infeliz, são condenados ao conservadorismo tradicionalista e arquivar um amor para sempre. 

O maneirismo será algo fervente que irá acender certas chamas ou pensamentos carnais como um dos meios linguísticos sensoriais. Wong Kar-wai faz algo muito inteligente com a câmera, os personagens serão enquadrados por janelas ou ruas estreitas, tudo isso soa como um olhar observador que observa certas atitudes errôneas dos personagens em meio à um amor tempestuoso. 

Há certas utopias que serão incrementadas para fortalecer o melodrama, uma delas é a utopia do encontro. Uma linguagem que será sutilmente realizada de uma forma que acrescentará e alimentará a fome narrativa. As cores vibram e flamejam como um ato florescente e crescente de um amor que está sendo alimentado por traições. É como se a paixão de Chow Mo-wan (Tony Leung Chiu-wai) e Mrs. Chan (Maggie Cheung), palpitasse de forma descontrolada e desgovernada pelas ruas e becos chuvosos de Hong Kong. 

Sinto um flerte novelesco em Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa), as elipses temporais serão articuladas como capítulos de uma novela, à cada piscar de olhos nos deparamos com um novo capítulo. Se prestarmos bem atenção, o melodrama será utilizado como um esteriotipo novelesco de forma saturada e fervente. As cores gritam as intenções, os encantos e os desejos carnais que estão implícitos na psique dos personagens. Mas, mesmo com todo esse fervor inquietante há uma hipocrisia que eu acho que desconecta um pouco à coerência e a intenção narrativa. Ao mesmo tempo que vemos as faces pecaminosas dos personagens, Wong Kar-wai apaga e esconde feições de certos personagens que partilham do mesmo pecado, ou seja, uma hipocrisia implícita que desfaz todo eixo coeso narrativo.

Wong Kar-wai, abriu portas e caminhos para o melodrama romântico no cinema contemporâneo. Servindo de referências para cineastas como, Sofia Coppola no seu filme Encontros e Desencontros (2001). Que partilha dos mesmos conceitos do filme de Kar-wai. 

Os melhores filmes sobre um romance impossível e impraticável são aqueles que conseguem ser clichês e imprevisíveis ao mesmo tempo. Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa), tem esta auto-consciência de seus conceitos estilisticos e narrativos. Diga-se de passagem que Wong Kar-wai, é um mestre em desenvolver narrativas que soam clichês, mas que ao mesmo tempo são naturais e autorais. À tal ponto de servir como referência para obras futuras que irão abordar uma premissa espelhada e referencial do longa dirigido por Wong Kar-wai.










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