Crítica - Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa)
O clichê imprevisível de Wong Kar-wai. À utopia do encontro foi uma linguagem pioneira na virada do milênio para à sétima arte.
O maneirismo será algo fervente que irá acender certas chamas ou pensamentos carnais como um dos meios linguísticos sensoriais. Wong Kar-wai faz algo muito inteligente com a câmera, os personagens serão enquadrados por janelas ou ruas estreitas, tudo isso soa como um olhar observador que observa certas atitudes errôneas dos personagens em meio à um amor tempestuoso.
Há certas utopias que serão incrementadas para fortalecer o melodrama, uma delas é a utopia do encontro. Uma linguagem que será sutilmente realizada de uma forma que acrescentará e alimentará a fome narrativa. As cores vibram e flamejam como um ato florescente e crescente de um amor que está sendo alimentado por traições. É como se a paixão de Chow Mo-wan (Tony Leung Chiu-wai) e Mrs. Chan (Maggie Cheung), palpitasse de forma descontrolada e desgovernada pelas ruas e becos chuvosos de Hong Kong.
Sinto um flerte novelesco em Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa), as elipses temporais serão articuladas como capítulos de uma novela, à cada piscar de olhos nos deparamos com um novo capítulo. Se prestarmos bem atenção, o melodrama será utilizado como um esteriotipo novelesco de forma saturada e fervente. As cores gritam as intenções, os encantos e os desejos carnais que estão implícitos na psique dos personagens. Mas, mesmo com todo esse fervor inquietante há uma hipocrisia que eu acho que desconecta um pouco à coerência e a intenção narrativa. Ao mesmo tempo que vemos as faces pecaminosas dos personagens, Wong Kar-wai apaga e esconde feições de certos personagens que partilham do mesmo pecado, ou seja, uma hipocrisia implícita que desfaz todo eixo coeso narrativo.
Wong Kar-wai, abriu portas e caminhos para o melodrama romântico no cinema contemporâneo. Servindo de referências para cineastas como, Sofia Coppola no seu filme Encontros e Desencontros (2001). Que partilha dos mesmos conceitos do filme de Kar-wai.
Os melhores filmes sobre um romance impossível e impraticável são aqueles que conseguem ser clichês e imprevisíveis ao mesmo tempo. Amor à Flor da Pele (Faa yeung nin wa), tem esta auto-consciência de seus conceitos estilisticos e narrativos. Diga-se de passagem que Wong Kar-wai, é um mestre em desenvolver narrativas que soam clichês, mas que ao mesmo tempo são naturais e autorais. À tal ponto de servir como referência para obras futuras que irão abordar uma premissa espelhada e referencial do longa dirigido por Wong Kar-wai.
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