Crítica - Eraserhead


Causa e efeito, as consequências do pecado. 

Qual é a verdadeira intenção do cinema experimental/surrealismo para a sétima arte? Pois é, uma vez me perguntaram isso, qual é a verdadeira essência estética e conceitual do cinema experimental, afinal, o surreal apenas serve como um enigma? Ou podemos destrinchar mensagens, signos ocultos e enigmáticos que estão implícitos? Pessoalmente, penso que toda obra de arte, por mais dúbia e bizarra que seja, pode carregar sentidos conceituais ou sentidos que podemos tirar com o nosso repertório individual. Então, o verdadeiro núcleo do cinema experimental está em um desafio contra a nossa própria natureza humana, ou seja, uma ambiguidade plástica e psicológica, e, quem irá decifrar e codificar uma mensagem, somos nós. Tirando o espectador de um conforto comodista, onde estamos acostumados a assistir filmes apenas por lazer, então, o surrealismo/experimental abre portais e lacunas invisíveis para uma atmosfera distópica que foge do que estamos acostumados, justamente para deslocar o espectador de uma natureza monótona, chata e contornada de problemas, a qual é a nossa sociedade. 

Existem cineastas que utilizam, de seu método estético e linguístico, um objeto mitológico que procura conservar e reutilizar uma atmosfera maleável, isto é, um domínio próprio de identidade cinematográfica e de sua própria plasticidade cinematográfica. Quando escuto isso, instantaneamente penso em David Lynch, basta apenas olhar à sua filmografia e analisar o seu manejo estético retirado do surrealismo, e posto no seu cinema, como sua identidade audiovisual. Algo que irá servir como um tópico de referência audiovisual, quando debatemos sobre cinema experimental, rapidamente, iremos nos recordar de um homem chamado David Lynch.

O cinema experimental tem intenção de manipular o espectador? Sim. Em suma, nos tornamos fantoches e marionetes que são manuseadas por cineastas experimentais. Parece engraçado, mas é um estado meditativo e imersivo imperceptível em que o espectador está mergulhado. Isto mostra o domínio psicológico que o surrealismo causa, sem ao menos perceber. É interessante ressaltar avisos prévios, indivíduos que sofrem de embrulhos no estômago, não assistam a este filme! Ou, pelo menos, tome algum medicamento antes. Caso você seja alguém que procura sentidos repentinos e lógicos para algo, delete essa limitação mental rapidamente. Utilize o sensorial, como uma arma codificadora que irá decifrar certos mistérios e enigmas propostos pelo filme. 


Eraserhead (1977), é um filme que utiliza demasiadamente o grotesco como um escapismo extremista que irá fantasiar uma realidade ilusória e desenfreada do homem/humanidade. Mas, que procura desenvolver e articular uma crítica social e religiosa sobre a perversidade impaciente do homem perante a carne. Uma crítica que envolverá questões e reflexões sobre a espiritualidade. Realmente, aqui temos um filme que iremos ficar matutando e remoendo à sua premissa por um longo período, não será um trabalho fácil engolir tamanha ambiguidade enigmática encurralada pelo preto e branco. Inclusive, o preto e branco é um artifício extremamente poderoso na construção central e principal de uma inquietação e apreensão psicológica, transpassada pelos personagens.

Há um elemento perturbador e extremamente feroz na diegese posta em Eraserhead (1977), é um desconforto para os nossos ouvidos. Uma diegese de ruídos alarmantes e amedrontadores que funcionam como uma trilha sonora psíquica. Em outras palavras, Eraserhead (1977) é um filme encomodo em vários aspectos, desde sua mise-èn-scene mórbida e estravagante, até certas cenas que fogem totalmente do normal. David Lynch sabe qual sentimento está transportando ao articular o grotesco como um método linguístico de impacto profundo (beirando o Trash). Uma estranheza que abre janelas para uma reflexão espiritual e religiosa, de certos perigos e consequências da imprudência que o prazer momentâneo pode causar.

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