Crítica - Garota Exemplar (Gone Girl)

Um reality show, gélido e masoquista. Dirigido por David Fincher.

Eu particularmente gosto muito da desobediência que alguns cineastas têm como personalidade e caráter autoral. Por maioria das vezes, ignorando de forma radical uma cartilha que procura conservar um formalismo imaginário e igualitário proposto pelo gênero. Arrisco dizer que o maior erro seja um receio ao desprendimento conservador e um apego a ideias imaginárias que estão sólidas em uma cartilha linguística do gênero. Se caso forem removidas ou movidas de seu local de origem, ou levadas para um novo horizonte linguístico, serão ridicularizadas por um público que está solidificado em um paradigma genérico. Ao mesmo tempo que isto é uma crítica à Garota Exemplar (Gone Girl), dirigido por David Fincher, estou criticando os padrões de uma sociedade "politicamente correta" e de um público retrógrado e cabeça dura. O cinema é uma arte completamente maleável e variável para cada processo temporal ou projetos conceituais, seria um pecado procurar brechas para criticar uma falta de coerência com os propostos que ligam um laço com o gênero.

David Fincher é um grande cineasta contemporâneo. O diretor consegue moldar aspectos joviais com uma estética totalmente contemporânea, como o seu objeto plástico que será a sua face identitária. Laços que ligam à sua autoria em meio à tecnologia no meio audiovisual, e seu manejo com aspectos que são "artificiais". Em um dialeto informal, podemos dizer que o cineasta quebra as barreiras solidificadas por idiotas passadistas que procuram proteger de forma doentia os limites que o gênero tem a nos oferecer.

O hiper formalismo contemporâneo é uma marca registrada de David Fincher. Garota Exemplar (Gone Girl), parecerá postiço e consertável ao mesmo tempo que parecerá insolúvel. Toda essa artificialidade e persuasão psicológica será algo válido para aquilo que está proposto de forma tácita no longa. Um bom filme de suspense será sempre aquele que zomba e usa o espectador como uma marionete. Essa é a essência psicológica e o verdadeiro sabor que está oculto dentro do estado imersivo e psíquico que o gênero está proposto a nos oferecer.

Garota Exemplar (Gone Girl), é um longa que partilha desses conceitos psicológicos sem receio algum de inovar elementos linguísticos com maestria. Após o misterioso desaparecimento de Amy Dunne (Rosamund Pike), Nick Dunne (Ben Affleck), seu marido, está afoito e procurando respostas plausíveis do estranho desaparecimento de sua esposa, enquanto luta contra as forças judiciais que pocuram acusações de um possível feminicídio vindo de Nick.


É super bem-vindo à utilização discreta do CGI para à realização estrutural da mise-èn-scene como um elemento plástico. Talvez, poderia soar artificial caso tal elemento não casasse de forma encaixada no contexto atmosférico que o filme está. Neste caso, Garota Exemplar (Gone Girl), é um filme de aparências mentirosas e invisíveis que são ocultas pelo talento e charme formal dos personagens, para replicar uma artificialidade implícita, à utilização de efeitos especiais harmoniza perfeitamente com à "aura espiritual" do longa.

Com o avanço e o aprimoramento de câmeras digitais, cineastas progrediram o maneirismo que filmes anteriores partilhavam. O neomaneirismo é algo fixo e predominante na filmografia de certos cineastas contemporâneos. David Fincher é um diretor que utilizará de forma saturada o realce a uma colocação mais profunda e semiótica para decifrar de forma individual os estados psíquicos e as segundas intenções dos personagens. Isto é uma forma moderna e nostálgica ao mesmo tempo, se pensarmos que um simples raio luminoso pode dizer de forma profunda e visível sobre os prováveis acontecimentos que acontecerão em breve.


Normalmente, ouvimos dizer que Garota Exemplar (Gone Girl) é uma cachoeira de falhas na decupagem. É algo insignificante caçar furos de roteiro apenas para estragar a magia imersiva e intrigante que os 149 minutos de filme nos proporcionam. Garota Exemplar (Gone Girl), foge de certos conceitos realistas em alguns momentos, mas estamos tão envolvidos na narrativa que só apontamos o dedo para visíveis "falhas", apenas para entrar no time dos certinhos. Algo que atrapalha e impede uma experiência satisfatória da real intenção proposta pelo filme. Isto é um pecado contra o próprio gosto pessoal de um indivíduo, que está deixando de gostar de algo para fazer parte de uma turma "extremista".

Garota Exemplar (Gone Girl), parte de uma consciência masoquista que serve como um plano de fundo para maquiar algo que facilmente poderia cair no burlesco ou genérico. Tudo respira e inspira como um reality show, que está repleto de pessoas frias e calculistas, com sede de vingança e com desejos sanguinários. David Fincher é um cineasta adepto dos tempos atuais, que utiliza a seu favor como seu recurso de linguagem.




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