Crítica | O Amigo da Minha Amiga (L' Ami de mon amie)
Existem cineastas que são apenas singelos cineastas. Éric Rohmer, é uma junção de um diretor que consegue de forma controlada e equilibrada, intercalar uma ambiguidade poética contemporânea com o seu método identitário de dirigir filmes num mesmo “parâmetro estilístico imperceptível”, resultando em um realismo contemporâneo muito útil, sutil e filosófico. Fazendo de seu cinema uma meditação sensorial por meio de feições imperceptíveis e um dinamismo cotidiano muito espontâneo. A filmografia de Éric Rohmer realça uma sensibilidade humana muito implícita no caráter pessoal de alguém, é como se todas as inseguranças pessoais fossem evidências e mostradas para o mundo, graças à sétima arte.
Uma fragilidade contemporânea que está de forma muito presente atualmente, e, mesmo que cada obra cinematográfica seja um registro de seu próprio tempo, sentimos uma certa ligação passada com a ansiedade na qual o mundo estava sofrendo. O Amigo da Minha Amiga (L' Ami de mon amie), é um registro que se torna atemporal em um certo ponto. A sociedade era escravizada pela ansiedade de uma vida corriqueira e contornada por inseguranças, levando pensamentos negativos e certas inseguranças pessoais que acabavam, de uma certa forma, atrapalhando decisões do indivíduo.
Éric Rohmer foi um cineasta que tentou buscar a sobrevivência de seu estilo cinematográfico com a evolução hiper estilizada que o cinema estava sofrendo no início dos anos 80'. O auge dos blockbusters estava dominando excessivamente as salas de cinema, deixando de lado um cinema que carregava traços e domínios próprios do cineasta. Costumo dizer que Rohmer é um mestre em dominar a sua própria plasticidade espacial e individual dos personagens, ou seja, por mais que os personagens se encontrem em locações demasiadas, tudo isso acaba se tornando espaços vazios e maçantes.
Uma solidão que invade o psicológico dos personagens de forma espontânea, fugindo de um certo espírito melodramático. Mas isso não quer dizer que os filmes dirigidos por Éric Rohmer não sejam melodramáticos em sua essência narrativa. Um de seus filmes mais emblemáticos é O Raio Verde (Le Rayon Vert) de 1986. Servindo de inspiração narrativa um ano depois, em O Amigo da Minha Amiga (L' Ami de mon amie), que partilha de forma visível de elementos narrativos que são articulados em seu filme anterior.
Em suma, quando vimos os primeiros minutos de um filme dirigido por Éric Rohmer, sabemos que estamos assistindo a um filme de Éric Rohmer. Isto não é traços de uma mesmice ou uma apreensão do seu próprio método de cinema, e sim uma forma explícita de identificação autoral que carrega uma certa vontade de um legado eterno como cineasta, pois sinto que estamos sofrendo uma escassez criativa de identificações visuais.
O Amigo da Minha Amiga (L' Ami de mon amie), é um espelho contemporâneo da espontaneidade e indecisões pessoais. O filme pode ser utilizado para destacar problemas reais vividos por uma sociedade insegura de si mesma. Contrariando opiniões que dizem que não existe o atemporal, mas certas fissuras psicológicas que não concretizam tal pensamento.
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