Crítica - A Bela da Tarde (Belle de Jour)

O amor existe? 

O cinema é covarde! – Uma gigante moeda bifacial que pretende esconder o lado inacabado da moeda, frisando os princípios e os valores doutrinários que são presentes na sociedade. É um fato que sempre houve um acovardamento em revelar os verdadeiros prazeres fetichistas e as feições características de um caráter psíquico deturpado. Luis Buñuel (1900-1983) foi um teórico sobre cinema e um cineasta muito polêmico para sua época. Os desejos latentes que estão no caráter do homem, mas que está escondido por uma máscara ornamentada pelo idealismo que protege os prazeres e as intenções desse fetichismo que preenche as vontades carnais de um indivíduo. Uma abordagem que está nos primórdios de sua filmografia, filmes como Um Cão Andaluz (1929), é um filme desprendido de um sentimento de reprimir aquilo que é almejado e que transborda na mente de um indivíduo. O longa traz o mesmo discurso de identificações característicos da Nouvelle Vague, uma paixão calorosa e doentia que ultrapassa os limites e atravessa os limites finais de um melodrama.

Existem movimentos cinematográficos que irão ser parodiados e eternizados como uma certa padronização própria. É inegável que os movimentos cinematográficos foram de extrema importância e relevância para uma revelação social verossímil. O Neorrealismo italiano é um movimento cinematográfico que se encaixa perfeitamente neste raciocínio. Algo que irá exibir de forma radical e escrachada as fraturas do pós-guerra. A Nouvelle Vague trará um encaixamento psíquico com as reais intenções que estão escondidas numa mente perversa, falha e maliciosa. Nesse contexto, A Bela da Tarde (Belle de Jour) cairá como uma luva dentro de todos os elementos súperos que estão solidificados numa filmografia do movimento (Nouvelle Vague). Onde o melodrama será levado ao extremo, ou seja, o amor será superabundante, as mentiras serão livres de uma empatia. É intenso, extravagante e psicótico.


Psicanálise e Cinema, são saberes que dialogam entre si. A Bela da Tarde (Belle de Jour), é um filme psicanalítico, – um filme de espelhos, espelhos quebrados por um fingimento auratico de uma persona que está em constante alterações humorísticas e sentimentais. Luis Buñuel, irá espelhar aquilo que provavelmente escondemos dentro de nós e mostrar às causas de um desejo que futuramente irá resultar em destruição, uma destruição de índole e uma relacionamento completamente escangalhado e marcado por um escândalo que irá reverberar para sempre. Luis Buñuel, sempre trouxe elementos psicanalíticos de Freud para seus filmes, para procurar desvendar o passado de uma adulteração "causada" por vontades masoquistas. O masoquismo, o prazer momentâneo pela humilhação também é algo que irá potencializar toda sede por traição e todas às consequências da adulteração.


Quando terminamos um filme, pensamentos começam a ecoar sobre nossa mente. A Bela da Tarde (Belle de Jour), é um filme feminista? Um filme que repreende e romantiza as intenções conjugais de uma mulher? – Sim. O cinema é uma arte desafiadora que busca uma descodificação de sua própria premissa e mise-èn-scene. Em síntese, A Bela da Tarde (Belle de Jour) é um filme sobre os conceitos masoquistas, algo que, aqui, é romantizado para o lado feminino. Trazendo novamente a Femme Fataly, onde um homem bonzinho tem sua vida subordinada pelos prazeres sexuais de uma bela mulher. Onde um homem é apenas um simples objeto sexual da mulher empoderada e destinada a suas próprias vontades e intuições. Mesmo que seja dolorido, A Bela da Tarde (Belle de Jour) é um filme que encaixa nas ideologias feministas. O estereótipo do homem obediente e a mulher ousada e intrêmula. 





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