Crítica - De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut)

Voyeurismo 

Opiniões e críticas alheias? Foda-se. Afinal de contas, era isso que Stanley Kubrick pensava. São pouquíssimos cineastas que conseguem obter uma identificação ótica que permanecerá de forma visível em seus filmes. Isto é, manter uma cronologia e uma identidade visual de suas características artísticas, um breve vislumbre que irá marcar sua identidade na arte de dirigir filmes. Acho engraçado que, quando assistimos Laranja Mecânica (1971), 2001: Uma Odisseia No Espaço (1968), O Iluminado (1980), sabemos que ali se trata de um filme dirigido por Stanley Kubrick. Percebemos que, enquadramentos profundos e metódicos, o fetiche de causar estranhamento e aprofundar o desenvolvimento psíquico no ato de filmar os rostos e as feições dos personagens, à profundidade filosófica daquela obra, ou seja, são elementos característicos de Stanley Kubrick. 

Em meus olhos, De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut), é um filme que retrata e articula de modo geral todas as explorações que envolvem o erotismo sexual e as decadências psíquicas dos personagens, artimanhas as quais foram as marcas autorais da incrível filmografia de Stanley Kubrick. Parece que o cineasta somou todas as peripécias lunáticas estilísticas e adiu em um só propósito audiovisual. Infelizmente, não temos mais um cineasta com o potencial e a genialidade de Stanley Kubrick presentemente, um cineasta que foi motivo de ridicularização por um grande período em sua carreira, mas o seu último filme soa como um tapa na cara da crítica. Eu gosto de definir, De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut), com singelas e breves palavras… — Vão se fuder
todos vocês. 

Foda-se. — Estou começando a acreditar que Stanley Kubrick pensava desta forma quando se deparava com as críticas e as vaias que seus filmes sofriam. Ignorando certos padrões propostos que procuravam conservar uma inocência e uma pureza platônica do mundo, o cineasta desenvolveu uma forma de sair de um idealismo que estava submisso a conservar o “certinho”, uma limitação que se torna idiota em uma arte tão maleável, a qual é o cinema. Isto se torna algo insignificante que promove um afastamento, uma segregação artística e criativa de um grande gênio da sétima arte. Na verdade, se tais ideias fossem levadas tão a sério pelo politicamente correto, não teríamos grandes cineastas que desviam um ideal e mostram a realidade implícita em tal beleza romantizada. Em minha opinião, esse é o motivo de Stanley Kubrick ser um cineasta tão venerado e lembrado até os dias de hoje.

Quando existe uma admiração pelo autor, é impossibilitado não transmitir isso num texto crítico de seu próprio filme. Tenho que admitir que isso é uma crítica aos críticos de Stanley Kubrick e, ao mesmo tempo, uma crítica à, De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut). Um filme que visa esconder a face da perversão sexual, apenas, utilizando uma máscara e um capuz negro. Sinto uma certa indireta com todas as artimanhas de uma premissa tão pesada e arriscada, envolvendo pessoas da elite que cobrem suas faces para praticar aquilo que desejam. Algo que era típico de Kubrick, em desenvolver premissas que são autorais e indiretas, criticando uma certa sistematização feita às escondidas. 


O que é o voyeurismo? Quando estamos assistindo a um filme na sala da casa de nossos pais, nossos familiares cruzam esse caminho e desviam nossa experiência, e, o que para nós seria algo normal, um corpo desnudo para nossa mãe ou nosso pai seria motivo de constrangimento. Então, quando saímos de nossa casa em direção ao cinema, estamos à procura de uma proteção ocular, quer dizer, uma sala escura e uma telona formam o objeto de realizações que estamos procurando, em outras palavras, — ver sem ser visto. Por que tanta nudez? É engraçado e inteligente ao mesmo tempo, como o voyeurismo se tornará um artifício visual de uso demasiado, utilizado intencionalmente para causar um exagero que envolverá a sexualidade de um corpo completamente desnudo, causando até um desconforto pessoal. Basicamente, De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut), é um cinema de corpos, a narrativa fluirá pelos fluidos e energias corporais que irão se sobressair em meio a orgias e surubas. O filme não se torna uma exploração feminina por causa disso, apenas um meio extremo do carnal para despertar certas atitudes e ações que estão “invisíveis”. No fim das contas, colocamos uma máscara e fingimos não ter visto absolutamente nada. 









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