Crítica - Ilha das Flores

“Recordar é viver”. A edificação em forma de ingratidão.

Compreensível, objetivo, analítico e censurador. Onde se encontra o núcleo do capitalismo? É incrível pensar que, em menos de 15 minutos, um discurso benéfico, realista e crítico seja algo extremamente bem aproveitado. Normalmente, dizemos que tudo é um registro temporário de seu próprio tempo, mas arrisco dizer que Ilha das Flores (1989) é um registro temporário que irá permear a frontalidade verossímil das massas de modo infindável. Abreviadamente, o curta-metragem é um ótimo exemplo de um filme que recolherá de forma orgânica e manual todas as imperfeições geradas pelo capitalismo. Na verdade, a própria construção da montagem neste pequeno documentário é uma escada decrescente onde o núcleo da miséria é irá se revelar contra um — romantismo capitalista.

Um dos pontos mais presentes da paródia crítica de Ilha das Flores (1989) está na montagem óbvia, previsível, corriqueira e cômica. Um dinamismo que contorna todos os laços delicados da fome e da escassez social. Sinto que toda a comédia em que foi utilizada neste longa foi com o intuito de amenizar aquilo que apresentaria uma centralidade demasiadamente escrachada. Em síntese, aqui temos um filme que causará um impacto estrondoso, um impacto que irá adentrar a empatia e o caráter humano. Basicamente, estamos cuspindo no prato em que almoçamos, mas não estamos percebendo, ou seja, somos cegos quando o assunto é o outro. Em outras palavras, o curta-metragem irá noticiar o peso de uma ingratidão indireta.

O cinema é platônico. O cinema é uma gangorra de amor e ódio. O cinema é uma arte sonífera de constantes ilusões oníricas. Isto significa que, ao mesmo tempo, em que somos hipnotizados por aquelas imagens, somos bruscamente deslocados para o ponto de partida, então, voltamos à estaca zero. Eu tenho o hábito de dizer que todos os estudos que envolvem questões artísticas são um enorme tricô de linho em que — diversas artes se entrelaçam e se cruzam umas com as outras. Ilha das Flores (1989) é uma descrença para uma possível suspeição numa prosperidade edificante. Pessoalmente, não costumo deturpar ou expor acontecimentos visíveis, isto de uma certa forma é o causador de uma experiência infeliz. Minha intenção foi estruturar uma construção crítica em cima de uma própria crítica, ou seja, Ilha das Flores (1989) é um filme que merece um processo de lapidação social a cada década. A cada década, a cada milênio, é necessária uma revisão ao filme dirigido por Jorge Furtado.

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