Crítica - Um Homem com uma Câmera
Uma sinfonia corriqueira de construções e desconstruções.
A arrogância extremista que tem em vista rejeitar noções igualitárias de um — “cinema burguês”. Um espírito burocrático de um cinema que procurava preservar sua atmosfera auratica imaginária. Dziga Vertov (1896 –1954), foi um cineasta/teórico que distanciou de modo áspero seus conceitos estéticos e sociais de qualquer mentalidade purista e democrática daquela época do cinema. — Dziga Vertov é original e destemido. Um cineasta e teórico que aplicou e transportou os seus próprios desígnios como apetrecho gerador de impacto de resultados e sentimentos profundos, verossímeis e críticos. É visível que Dziga Vertov está muito mais preocupado em descodificar e exibir um realismo social, que estava escondido debaixo de panos que procuram realçar uma imagem ilusória da sociedade. Em Um Homem com uma Câmera (1929), todos os seus conceitos teóricos são colocados em prática para uma imersão em uma parte em que estava perdida e escondida intencionalmente. Um esmoler está jogado às traças nas ruas sujas, enquanto isso, certos cineastas desfilam por eles. Mas, Dziga Vertov subverte toda essa arrogância vaidosa.
Um Homem com uma Câmera (1929), — é um dilúvio de imagens repletas de signos sociais, e que nossos olhos serão o intérprete e o tradutor dessas imagens. Tenho a certeza de que o radicalismo e a rebeldia de alguns cineastas e teóricos do cinema foram o agente responsável por praticamente todas as mudanças estéticas que envolvem a sétima arte. Sobretudo, as intransigências são extremamente importantes para uma evolução criativa que irá expandir os caminhos da linguagem do cinema. E, nesse contexto, a rejeição de uma visão de mundo e uma concepção limitadora e invasiva que perambula sobre os espaços é algo inexistente e tolo para Dziga Vertov. Ao invés disso, a câmera será o objeto primordial de uma exploração do espaço temporal, isto significa que nossos olhos serão submissos a partir de um manejo do homem que está com a câmera nas mãos. Planos inventivos e inovadores irão fazer parte de toda construção e de toda montagem documental. — Uma sinfonia urbana que contorna todo o ambiente e preenche todos os espaços públicos daquela sociedade.
E o que seria uma sinfonia urbana? Existem filmes que são chamados de sinfonias urbanas. Resumidamente, Um Homem com uma Câmera (1929) é um mergulho urbano, a uma sinfonia urbana que se adequa a diversos ritmos. No começo, estamos inertes, minutos passam e entramos em uma vida cercada de ritmo e velocidade. Tudo isso é feito com ritmos bruscos, ou seja, não esperamos o que pode acontecer posteriormente, apenas observamos e contemplamos aquelas imagens. Também podemos dizer que esta obra é um filme que escala em eixos contemplativos. E, também, não podemos esquecer que o documentário, dirigido por Dziga Vertov é um trabalho verossímil que atravessa os limites do olho humano com uma simples câmera. Vertov dizia que a câmera é superior comparada ao olho humano, onde está em constante aprimoramento, enquanto nossa qualidade ótica não ultrapassa um certo limite de melhoras visuais. De forma didática, a câmera está milhares de anos-luz à frente de nossa qualidade ocular.
Um Homem com uma Câmera (1929), é um contraste com diversos e variáveis saberes artísticos. Uma obra literária, teatral e cinematográfica é o espelho da mente que o autor deseja transmitir para o mundo, ou seja, o cinema é um caminho de gritar para o mundo aquilo que está entalado em seu peito. Um Homem com uma Câmera (1929), responde abreviadamente todas às vontades que estavam enraizadas nas teorias e no real sentido do cinema para Dziga Vertov. Onde as imagens irão ser o protagonista e o personagem principal irá ser a urbanização, algo que irá resultar na “cine-verdade” que, para Vertov, o aroma e o coração do cinema estavam em mostrar a autenticidade e a verdadeira essência das coisas que tangem o mundo.
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