Crítica - Veludo Azul (Blue Velvet)
Eu sempre brinco dizendo que, existem cineastas que brincam com sua própria construção estética, diretores de cinema que lapidaram uma coluna rígida, uma coluna que é quebrada à cada filme que é lançado, mas quando um novo filme é feito, toda essa coluna é reestruturada e reinventada com fins poéticos que procuram crescer ainda mais e intensificar uma insegurança pessoal. Quando toco nesse assunto, o nome David Lynch invade minha mente, e arrisco dizer que ele seja um dos maiores e melhores cineastas vivos que gesticulam as suas ideias sem medo algum, sem receio de destoar de um formalismo um pouco mais antiliberal. No geral, David Lynch é um dos maiores diretores de cinema que ressignifica uma tempestade de fatos oníricos que invadem os ouvidos e os olhos do espectador.
Essa invasão, ou melhor, essa tempestade de fatos, é algo que resumiria de forma geral o que sentimos quando assistimos Veludo Azul (Blue Velvet), um filme sobre invasões, principalmente, invasões diegéticas. Eu sempre digo que a experiência com um filme é fortalecida e impulsionada quando olhamos ao nosso redor e tudo que está presente, de uma certa forma, se iguala com a fórmula proposta pelo cineasta. Por incrível que pareça, quando eu estava assistindo ao filme, estava fazendo um frio extremamente intenso, e, lá fora fazia uma ventania ensurdecedora, tudo isso casa perfeitamente com toda a diegese sonora deste filme, aonde parece que estamos dentro de uma casa num período de inverno e o vento sopra e bate sobre as janelas.
Veludo Azul (Blue Velvet) é um filme metafórico, onde os signos dessa metáfora são encontrados pela curiosidade de um indivíduo no lugar errado e na hora errada, ou, no lugar certo, na hora certa. Com certeza já ouvimos dizer que os personagens intrometidos no cinema são os causadores de toda desgraça que ocorrerá. Na verdade, eu creio que existe um magnetismo implícito em todas as arestas daquele universo ficcional, ou seja, se somamos um tropo humano com uma das magias mais essências do suspense, resultará na má sorte. Os personagens não são idiotas por quererem desvendar aqueles enigmas, em última análise, o próprio gênero do suspense propõe protagonismo.
Obscuridade e um maneirismo mórbido e florescente. Se analisarmos de modo cauteloso, conseguimos encontrar uma certa padronagem dentro da filmografia de David Lynch. Isto é, o seu próprio cinema visualizado numa ótica um pouco mais abrangente e o seu modo de enxergar as incongruências mundanas sendo evidenciados. Normalmente, ouvimos dizer que para uma obra ser acima da média, ela deve se distanciar de tudo aquilo que foi feito por aquele autor – isso é errado. Seria praticamente impossível não replicar aquilo que amamos e quando temos algo em mente, aquilo fixará em nossas vontades por um longo período.
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