Crítica - Alerta de Risco (Trigger Warning)



O realismo social e temáticas que abordam a justiça, a injustiça e a vingança são indícios característicos de trabalhos que são dirigidos pela cineasta indonésia Mouly Surya. Que tem como objetivo focalizar e deslocar todas as injustiças sociais que as mulheres são vítimas e, colocá-las num pedestal, algo que põe em relevo o heroísmo feminino e o empoderamento feminino, isso trará um reconhecimento que se faz necessário no mundo em que vivemos, e que, em última análise, desmancha aquilo que imaginamos que só seria capaz se forem realizados por homens. 

Aqui, todas as premissas que foram abordadas como tópicos frontais em seus filmes anteriores, se fará presente novamente, mas, com vestígios de uma gamificação genérica de filmes que tem como transparência aumentar as habilidades vitais e corporais de uma mulher perante homens com arsenais de armas. Mas, Alerta de Risco (Trigger Warning) é um filme que está muito mais preocupado em como essa gamificação irá percorrer, bem como toda a densidade contemplativa que as cenas, principalmente as cenas de batalhas, irão ser digeridas e exibidas. 

Eu acho atrativo como Mouly Surya utilizará as cenas de luta e as cenas de ação como a sua própria elasticidade pictórica, ela trará um impacto bruto para o público feminino, e por outra, trazendo um impacto para um indivíduo que é fanático em filmes de ação, isso fará com que ambos dos públicos se identifiquem, de uma certa forma. É com essa maleabilidade plástica que a cineasta criará a beleza estilística com cenas que são extremamente muito bem coreografadas, algo que é usado como um artifício de ornamentação dentro daqueles espaços, outrossim, algo que incrementará a força das mulheres naquelas situações, e de certo modo, isso faz com que os homens comam na palma de suas mãos. Em outras palavras, os homens apenas servirão como um plano de fundo, um agente que está submisso às vontades de uma mulher forte e destemida, destravando paradigmas conservadores do homem provedor, e sedento de sangue quando tocam em seu ponto fraco, a sua família. Por mais extremo que isso possa parecer, eu consigo sentir que existe um fardo, ou até uma certa implicância, com os homens nos filmes de ação, homens que são sinônimos de força bruta e de força racional, me parece que a cineasta herdou essa aversão e levou para o coração, e, isso transpareceu indiretamente em seu filme.

Alerta de Risco (Trigger Warning) conta a história de uma espiã que, após a misteriosa morte de seu pai, a agente Parker, interpretada pela Jéssica Alba, começa uma busca incessante por fatos que respondam essa incógnita dolorosa e angustiante. Pessoalmente, eu penso que se algo propõe um realismo estético ou um realismo narrativo, não será preciso alimentar ainda mais aquilo que o filme já mostra, uma frontalidade visível, isso parecerá com uma rebelião contra aquilo que o indivíduo não é a favor. Mouly Surya é uma cineasta que busca trazer uma verossimilhança em seus filmes, um realismo potencializador que realça nuances de injustiças sociais que são presentes em nossa sociedade. E, por mais que a centralidade seja muito evidente em seu filme, ela se perde em alguns momentos, com cenas que estão presentes apenas para destacar ainda mais uma força vinda da mulher. É um uso demasiado que se faz presente, mas não para entregar um novo elemento para o filme, mas sim para alimentar ainda mais o conceito ideológico que partilha como um pressuposto no filme. De modo resumido, um realismo que tem sede de beber cada vez mais de fontes que jorram o exagero. 

É muito comum vermos filmes que utilizam as mesmas metodologias, um bom exemplo disso que estou falando é os filmes protagonizado por Jason Statham, somos imersos naquele submundo criminoso e ilegal, mas sentimos na pele do protagonista quando alguma ferida é tocada, assim, saímos atrás daquilo que é nosso, digo, do próprio protagonista. Digo isso, pois espelhamos aquelas situações que são jogadas no peito do ator e tomamos as suas próprias dores, um artifício usado pela psicanálise, ou seja, espelhamos e nos tornamos aquilo, vingança e justiça. Geralmente, filmes que têm como propósito a gamificação e as etapas de um problema que deve ser resolvido propõem motivações que são as chaves que influenciam aquele cidadão a praticar aqueles atos. Existe uma energia que conspira pela justiça, um apelo paternal como uma engrenagem que é o ativador das motivações que irão ser tomadas, isto é, uma vontade que procura preservar um legado e um amor paternal. Com isso, o filme se equilibra numa corda psicanalítica, os flashbacks alimentam a fome pela justiça que está à procura da preservação, uma preservação de legado e amor paternal.

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