Crítica - O Mal Não Existe (Evil Does Not Exist)
É pictórico, abstrato, intrigante e sublime. Nos minutos iniciais, isto significa, logo na cena inicial entramos num de transe profundo, nossos olhos são mergulhados naquela sequência hipnótica de galhos secos e por um lindo céu azul, uma ironia que se transformará em algo muito abstrato, um elemento que destacará um vislumbre futuro daquilo que veremos mais tarde, ou melhor, é quase uma pré-laudo psíquico de todos os acontecimentos nocivos que aquela região está prestes a ser vítima, todos aqueles moradores locais, e, principalmente, os envolvidos do “Glamping” (um projeto que visa construir um novo ponto turístico naquela região).
Toda essa construção imagética inicial, em última análise, construirá uma ponte para que o desfecho atravesse, mas, se for o caso desse resultado final atravessar essa ponte cambaleando de um lado para o outro, existe uma enorme chance de tudo isso ir por água a baixo, em outras palavras, tudo vai depender da nossa própria bagagem individual, ou, da nossa malícia de enxergar aquilo que é invisível. Isso vai demandar uma ousadia, um jogo de cintura que primeiramente virá do próprio cineasta, em apostar um discurso poético e alegórico naquilo que é confuso.
Levando todo esse contexto em conta, será mesmo que tudo isso se encaixou? Na verdade, dependerá de pessoa para pessoa, são visões infinitas quando o assunto é o universo audiovisual. Por isso que eu sempre digo: se algum crítico vier e pregar um paradigma sobre algum filme, — pare de segui-lo imediatamente! Iria ser algo vazio se um filme estabelecesse apenas uma estrada para ser seguida, você, subverta isso agora mesmo e trilha os seus próprios caminhos, se permita viajar e viajar naquilo que o filme propõe com incalculáveis recursos interpretativos (a sua experiência é única). Eu pessoalmente levo isso para minha vida até hoje.
Enfim, vamos recapitular para o início, naquela floresta gélida, com os galhos secos e um céu azul, se nos deixarmos a ser levados por aquelas imagens, conseguimos buscar uma similaridade com o sistema nervoso de um ser humano, ou melhor, todo o sistema que é respostavel pelo nosso funcionamento neurológico, penso que tudo aquilo serve como ferramenta de identificação psíquica, soa como um exame psicológico do próprio filme e, também, dos próprios personagens que estão envolto e que terão participação daquele futuro problema.
O Mal Não Existe (Evil Does Not Exist), desenvolve um check-up psicológico das duas facetas do filme, o bem e o mau, ou também, podemos chamar de ambição e a preservação. Isto é, uma luta que, se for realizada pela razão, a chance de ser vencida é enorme, mas, agora, se for realizada com afobação e ignorância, não existirá chance alguma de vitória, e sim, de morte e destruição. Sei que parece besteira, mas tirei uma pequena ilustração daquilo que é distintivo do melodrama, onde existe uma batalha entre os dois lados da moeda, e, nesse filme, isso se faz presente de uma maneira muito crítica, podemos dizer.
Como de costume, Ryūsuke Hamaguchi é um cineasta que sabe como utilizar a introspecção como uma forma de mostrar o que está passando na cabeça de um tal personagem, conseguimos enxergar isso em quase todos os seus filmes, aonde o cineasta utiliza uma narrativa um pouco mais lenta, mas que, se transforma em contemplação, uma contemplação que subverte o estilo mais comum de uma narrativa que estamos acostumados. Aqui, cada diálogo e cada plano são muito reveladores, é claro, psicologicamente falando.
É uma espécie de arrebatamento temporário que transporta os olhos e o corpo do espectador para aquelas situações, somos o sujeito que acorda toda manhã para encher os nossos baldes da água corrente, cortamos a lenha e juntamos ao lado de nossa casa, fumamos um cigarro, e, quando chega a noite nos reunimos com nossos amigos para uma pequena confraternização, ou até mesmo, um simples jantar. O diretor não tem nenhuma pressa em dinamizar os fatos e nem de antecipar os passos que são dados pelos personagens, todo o caminhar andará conforme eles querem. E, por mais engraçado que isso pareça, é como se todo o dia fosse um novo dia, não existem elipses que aceleram o tempo, o tempo é aquilo que ele é, e ponto final. Observamos o protagonista, Takumi, interpretado pelo Hitoshi Omika, ir caminhando todos os dias num poço para pegar um pouco d'água, enquanto os milésimos, segundos e minutos estão passando. O tempo irá frisar para podermos entender o lado de outra pessoa.
É uma espécie de arrebatamento temporário que transporta os olhos e o corpo do espectador para aquelas situações, somos o sujeito que acorda toda manhã para encher os nossos baldes da água corrente, cortamos a lenha e juntamos ao lado de nossa casa, fumamos um cigarro, e, quando chega a noite nos reunimos com nossos amigos para uma pequena confraternização, ou até mesmo, um simples jantar. O diretor não tem nenhuma pressa em dinamizar os fatos e nem de antecipar os passos que são dados pelos personagens, todo o caminhar andará conforme eles querem. E, por mais engraçado que isso pareça, é como se todo o dia fosse um novo dia, não existem elipses que aceleram o tempo, o tempo é aquilo que ele é, e ponto final. Observamos o protagonista, Takumi, interpretado pelo Hitoshi Omika, ir caminhando todos os dias num poço para pegar um pouco d'água, enquanto os milésimos, segundos e minutos estão passando. O tempo irá frisar para podermos entender o lado de outra pessoa.
Eu acho interessante como o Ryūsuke Hamaguchi manipula todo o tempo do filme, existe uma quebra rítmica muito brusca, algo que carregará todo o peso dramático e enigmático para o desfecho final. O Mal Não Existe (Evil Does Not Exist) não se preocupa de ser um filme com traços politicamente certinhos, é muito mais do que isso. Promovendo todo o discurso ambiental e social para uma conclusão individual.
Se eu for resumir de modo claro, eu diria que é um filme aonde somos o aprendiz daquilo que pertence ao próximo, de uma certa forma, também estamos sentados naquela cadeira aonde acontece a reunião do projeto “Glamping”, mas, estamos calados apenas observando e absorvendo aquelas informações, e, aquelas pessoas defenderem o ambiente aonde residem, quer dizer, preservando o próprio meio ambiente enquanto o outro lado da moeda está apenas olhando para o fundo de seus bolsos.
A moralidade desse filme está muito mais em parar e pensar, em qual lado da moeda estamos? Será mesmo que vale a pena entregar o nosso caráter de mão beijada, ou devemos ser um pouco mais racionais e olhar ao nosso redor?
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