Crítica - Entrevista com o Demônio (Late Night with the Devil)
Na década de 1970, um carismático apresentador chamado Jack Delroy, interpretado por David Dastmalchian, tem um talk show televisivo. Numa certa noite de Halloween, o apresentador chama convidados para uma edição especial, na qual todos são especialistas em assuntos ocultistas. Delroy está interessado em reviver novamente o estrelato, utilizando meios religiosos pagãos para alcançar o topo da fama. Todos os convidados têm segundas intenções. O que era para ser uma edição comemorativa acaba se tornando um caos tremendo quando uma jovem, que afirma estar possuída pelo diabo, se manifesta em meio a toda rede televisiva.
Assim como em "100 Bloody Acres", de 2012, dirigido pelos irmãos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, assume claramente uma comédia que serve como fundamento preparatório para um clímax que futuramente vai intrigar quem está assistindo aqueles acontecimentos. Essencialmente, o gênero prepara o terreno para o terror ser plantado.
Parafraseando toda essa composição característica de seus métodos narrativos, percebemos que, quando o programa vai para um intervalo comercial, a maquiagem dos personagens é retocada. Eles são vocês, sim, nós nos tornamos aqueles personagens sem ao menos perceber. É como se eles dois brincassem com nossas ideias e opiniões sobre questões místicas que são apresentados naquele episódio. Quando digo isso, de uma forma ou de outra, faz sentido.
Por causa de toda a condenação que os próprio cineastas tem com a nossa mentalidade, eles se tornam quase enganadores, invasores, alguém que manipula, mas não se faz presente nos cenários. Eles são o diabo, no filme ele encarna no corpo de uma garota, atrás das câmeras, os irmãos Cairnes se tornam o próprio. Com isso, somos manipulados, submissos e entregues por suas mãos como bonequinhos de ventríloquo.
Embora possamos imaginar que tudo isso tenha sido elaborado e transmitido de forma não intencional, todo esse provável demérito não desmerece o mérito psicológico que foi montado. Para ser sincero, se isso foi uma jogada extremamente meticulosa da parte deles dois, é de bater palmas. Pois, pessoalmente, percebi uma inventividade muito interessante no método decupatório das cenas. Esses retoques na maquiagem cênica dos personagens, de maneira específica, são um ótimo exemplo dessa clareza que higieniza a pele e, principalmente, os olhos da audiência.
Aqui, pretendo apenas escrever uma interpretação que tirei de mim mesmo e que, no contexto do filme, foi muito bem utilizada e articulada. Não como um extremismo, mas pendendo para um lado mais poético, deixando de lado um radicalismo já utilizado como premissa. São inversos de valores, nada é sólido ou algo do tipo. O longa-metragem se permite experimentar sensações diversas sem se perder numa fórmula saturada, transformando todos os elementos de uma paródia genérica de dia das bruxas da Nickelodeon.
Embora o clima pese um pouco de vez em quando, as atuações e certos diálogos contrariam todo aquele clima tenso que fica no ar. É como se eles, os diretores utilizassem esses personagens como uma quebra rítmica desses sentimentos. O filme é uma montanha-russa que tem momentos de grande expectativa e momentos de decadência, quase uma quebra em nossa expectativa.
Esses personagens refletem a maioria do público que assiste, mas depois, bebem da água jorrada por esse ceticismo. A propósito, o principal personagem que carrega essa dúvida sobre questões míticas é o próprio hipnólogo, o detector de charlatães que se assenta ao lado do apresentador. O cético, ou especialista em hipnose, é um dos personagens que se apresenta como um telespectador. Novamente, o hipnólogo e o espectador são as mesmas pessoas (em quesitos de dúvidas sobre tudo que está acontecendo no talk show).
Sabemos que "Entrevista com o Demônio" (Late Night with the Devil) é um filme que logo de cara se vende como um trabalho pertencente ao terror, deixando isso bem claro na montagem inicial (um found footage frenético que é um ponto de partida lógico para o peso dramático e religioso que aquela comédia vai carregar em suas costas).
Consigo ver uma certa semelhança com o início de "Cidadão Kane" (1941), de Orson Welles, onde a montagem estabelece um resumo para que o filme abra e aborde de modo coeso tudo aquilo que propõe. Nesse longa, essa justaposição servirá como um elemento que destacará os pontos principais (como uma matéria de jornal da época), algo que casou quando o assunto é a vida de ambos os personagens. Em vez de passar horas e horas destacando todos os acontecimentos da vida deles, o filme adota uma dinâmica que atropela os fatos de modo bem informativo.
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