Crítica - Os Observadores (The Watchers)
Estou dizendo isso pois futuramente irei abordar o porquê desse trabalho não ter nenhuma consistência, e sim, ansiedade. Ele entra num piloto automático para realizar algo que é "obrigatório". Em linhas gerais, é um filme que se transforma de modo radical; nós conseguimos perceber até um certo desespero em não largar um laço que foi amarrado no passado, a paternidade, e irá ter uma culpa nesse deslize prematuro. Podemos assim dizer que, "Os Observadores" (The Watchers) é um filme que procura trazer uma frontalidade profunda e significativa para aqueles personagens, mas ele, o filme, apenas procurou, se perdeu e não conseguiu.
O longa-metragem buscou trazer esse estudo genealógico por meio de um simples objeto em que os próprios defeitos daqueles personagens são refletidos. Um espelho será um mecanismo metafórico, que foi colocado justamente como um portal que atravessa as camadas mais profundas de um indivíduo, rasgando o núcleo de seus traumas. O primeiro trabalho de Ishana Night Shyamalan, "Os Observadores" (The Watchers), se passa numa floresta gélida, assombrosa e sem saída, onde os moradores se escondem dos "Observadores", que são criaturas que ficam pelas redondezas da floresta. Eles têm a intenção de replicar aqueles moradores e, também, as pessoas que se perderam por aquelas redondezas.
Mesmo que o uso minimalista dos cenários seja limitador, todo esse possível erro que poderíamos cogitar se transforma numa limitação intencional, justamente para sufocar e limitar as ações dos personagens, aumentando a adrenalina em resolver os problemas sem pensar duas vezes. Assim, elevando os sinais de alerta naquela ficção e também fora daquela ficção, pois espelhamos e sentimos aquele desespero gritando e ecoando em nossos ouvidos. Os espaços, principalmente a floresta, criarão uma antítese, uma inversão sensorial. Mesmo que sintamos o frio e os calafrios daquela invernosa e obscura floresta, ela irá inverter todo esse papel de vilã. Lá, na floresta mais precisamente, será um lugar onde as regras devem ser seguidas à risca. É como se para os personagens aquilo fosse a própria imagem do inferno, mas, como em qualquer lugar que frequentamos, existem regras, e, querendo ou não, temos que segui-las, ou, senão, somos devorados brutalmente pelos demônios ou até mesmo por aquele próprio ambiente que nos suga.
Sentimos nojo, medo, ou até um respeito mórbido por essas criaturas estranhas e humanoides. De veras, elas são uma réplica mal construída e desengonçada daquilo que há de pior no caráter e no passado daqueles personagens; essa é a motivação/obsessão principal daquelas criaturas. Mas, toda essa obsessão é barrada, não por um espelho, mas sim por algo imaginário que torna o ser humano, um indivíduo errôneo e cheio de pecados, numa divindade única e intocável. Esse fetichismo se torna numa ideia privilegiada de um indivíduo que enxerga o homem como o centro de todas as coisas, uma visão antropocêntrica do homem em cima de um palco gigante e inalcançável. É até algo válido se levarmos em conta a simplicidade narrativa, causando um espírito poético diante de incontáveis premissas com esse mesmo molejo.
Trabalhos audiovisuais que são iguais a "Os Observadores" (The Watchers) estão sendo fabricados a todo vapor. E isso chega a ser cansativo, um batalhão de filmes e séries que partilham da mesma premissa, mas que são feitos com a mesma fórmula. Sobretudo, são obras que abordam que deslocam os seus personagens em lugares estranhos e desoladores, são tirados do forno a todo momento, às vezes, filmes que são iguais uns aos outros. A diretora desse filme, Ishana Night Shyamalan, aposta numa mesma abordagem convencional, mas com um pequeno apelo poético, uma ideia que iria diferenciar o seu filme dos demais que são iguais. E, sinceramente, eu não consigo entender qual foi a verdadeira intenção que a cineasta quis no seu longa-metragem. É como se ela quisesse trazer uma autenticidade autoral, mas isso não dá certo, por causa de uma possível pressão ou de um possível dever de ser a filha do M. Night Shyamalan. De modo geral, é uma pena tudo isso.
Como é o seu primeiro filme, a cineasta quer trazer um impacto estético, e isso ela até consegue, mas peca erroneamente em replicar traços paternos. É um típico trabalho que teria um potencial significativo de ser algo melhor. Arrisco dizer que esse seja o problema maior presente no filme. A diretora precisa urgentemente procurar trilhar um caminho que não precise ser algo característico e alusivo ao seu pai. M. Night Shyamalan se tornou um diretor muito famoso por causa de suas reviravoltas intrigantes e reflexivas, uma característica que se fortificou em "O Sexto Sentido", no ano de 1999, "Sinais" de 2002, "Corpo Fechado" de 2000. Nomeadamente, são filmes que ficaram conhecidos por causa de suas mudanças bruscas na quebra da expectativa final, são obras que reverberam e se intensificam cada vez mais quando pensamos nelas. E, é essa a minha maior implicação com o filme de sua filha. Ela quer fazer algo igual ao pai, mas se degringola na reviravolta final. Afinal, é uma reviravolta que não tem um pensamento conceitual atrás dela, e sim, apenas serve para ser um quebra-cabeça que não termina.
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