Crítica - MaXXXine

À primeira vista, me chamou muita atenção principalmente em certos aspectos que foram utilizados anteriormente para disfarçar e sublimar uma crítica à própria indústria hollywoodiana. Sim, estou me referindo a David Lynch em "Cidade dos Sonhos" (2001), onde o cineasta utiliza seus meios clássicos e distintivos para apontar um parecer do lado coberto e escondido da indústria. Isso se torna um motivo a mais para criar ou aumentar uma admiração já existente pelo realizador. É genial, pois ele coloca a mão no fogo em prol da arte e da justiça, sem deixar de lado sua paixão pelo cinema. Dessa forma, ele acaba tirando o dele da reta, evitando problemas futuros, e planta a semente de uma incógnita que irá crescer se for regada.


Em "Cidade dos Sonhos" (2001), Lynch deixa claro desde os primeiros momentos que o filme que estamos assistindo é um trabalho dirigido por ele. A cena de abertura, com seu caráter surreal e traços oníricos, serve como um portal para uma jornada de descobertas que transforma nossa percepção do glamour do cinema. O filme desmonta o perfeccionismo californiano de Los Angeles e cria uma "ficção" das arestas que empurram os personagens para uma ladeira abaixo. Lynch usa esse magnetismo revelador para expor, pouco a pouco, os lados ocultos de um mundo almejado por muitas mentes sonhadoras e apaixonadas pelo cinema.


Por outro lado, Ti West utiliza elementos de seus trabalhos anteriores, como "X" (2022) e "Pearl" (2022). Esses filmes constroem uma atmosfera única por meio de figuras individuais e uma unidade estilística construída com subgêneros como o gore e o trash. "MaXXXine" (2024) é a terceira parte da trilogia iniciada com "X" e seguida por "Pearl". O filme se passa nos anos 1980 e acompanha a vida de uma jovem chamada Maxine, sobrevivente de um massacre, enquanto busca brilhar em Los Angeles. Nessa jornada conturbada, ela enfrenta os verdadeiros perigos e problemas da indústria do entretenimento.

Como mencionado anteriormente, "X" (2022), "Pearl" (2022) e "MaXXXine" (2024) são trabalhos interligados. Embora isso possa parecer óbvio, minha perspectiva é que West estrutura, primeiramente, um estudo psicológico dos personagens, especialmente da protagonista, antes de mergulhar em cenas sangrentas. Ambos os filmes têm um tom irônico; West não tem pressa de revelar as sutilezas da psique da protagonista. Os filmes começam com uma aparência inocente e vibrante, mesmo sabendo que são classificados como terror, e essa ingenuidade é comprada através de uma breve manipulação visual inicial.

Ambos os filmes mostram, numa primeira impressão, essa inocência e desordem com questões religiosas, algo bem presente em "Pearl" (2022), onde referências e simbologias religiosas estão presentes nos cenários, para depois serem subvertidas. West usa essas simbologias como moldes para criar uma nova religião através das atuações e do uso desses signos. Em "MaXXXine" (2024), essa abordagem é evidente desde a cena inicial, onde a protagonista está no púlpito da igreja de seu pai, repetindo suas palavras. Essa breve sequência em found footage é crucial para o estudo psicanalítico desenvolvido ao longo do filme.

Um dos maiores desafios ao escrever sobre filmes interligados, como trilogias ou franquias, é desapegar das ideias usadas em cada filme específico. Ao abordar um filme dentro de uma continuidade, esperava-se que "MaXXXine" (2024) apresentasse uma replicação espirituosa dos filmes anteriores. Isso não seria um problema, pois muitas obras usam referências para criar novas perspectivas. O filme segue por esse caminho, mas também intercala referências a paixões existentes. "MaXXXine" (2024) é um dos filmes mais autorais em termos de referências a obras clássicas, sem deixar de lado a alegoria nas entrelinhas.

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