Crítica - Juventude Transviada (Rebel Without a Cause)


O cinema não tem a obrigação de ficar de olho no filho de ninguém. A arte não tem como objetivo educar obrigatoriamente um indivíduo (educação é de berço, de nossas casas, dentro de um ambiente familiar). É uma tarefa extremamente fácil, para o deslize, repassar os obstáculos da vida de um indivíduo. Só que, desde sempre, uma das maiores ambiguidades de se narrar são os jovens rebeldes, aqueles que são especialistas em arrumar problemas, construir badernas, fazer tempestade em copo d'água. Indivíduos que não pensam duas vezes antes de decidir escolhas que custarão a paz de seus pais. Com eles, existe sempre uma cartilha na manga, muito manjada e bem mais prática do que horas e horas na procura de soluções para problemas.

Tem um livro chamado A Juventude Vai ao Cinema, de Inês Assunção de Castro Teixeira, José de Sousa Miguel Lopes e Juarez Dayrell. O livro é básico e direto ao ponto naquilo que ele deseja repassar como bagagem literária. Sua centralidade está nessa fase da vida, focando em como essa figura é manipulada dentro do cinema. Ignorar um dos maiores clássicos sobre o assunto seria um tanto quanto desrespeitoso; é quase desmanchar, jogar água num papel onde está escrita a história da arte.

O livro não vai para o lado do esquecimento (um estilo literário que se vende como hermético, mas que rapidamente acaba caindo no limbo), nem em sua forma didática, e também em como suas demais obras são abordadas lá. Dirigido por Nicholas Ray, Juventude Transviada (1955) é o último filme escolhido pelos autores como tema de abordagem (uma das melhores escolhas, inclusive). O poder de marcar uma vida é partilhado pelo cinema. Eu, pelo menos, tenho leves e ligeiras memórias de certas cenas do longa, mas a sensação, as cores, os diálogos criam um fluxo que gruda como chiclete.

Lembro que Juventude Transviada (1955) foi um filme que marcou muito o meu comecinho, o nascimento do meu gosto por filmes que são chamados de "essenciais". Jim Stark (James Dean) — o ator nasceu em 1931 e faleceu no ano de 1955 — é um baderneiro de carteirinha, que, após chegar numa nova cidade, se envolve no acidente de Buzz (Corey Allen), líder de uma gangue de jovens do ensino médio (um líder de uma gangue de "bad boys"). Mesmo que o filme aqueça essa ideia de jovens sinônimos de destruição, essa ideia parece estar na camada mais superficial. Há todo um discurso que soa implícito nos diálogos, mas as imagens contradizem essas falácias que são jogadas no ar. O todo vai para o lado de querer intercalar essa alegoria à família tradicional americana, mais do que propriamente mostrar esses sinônimos que generalizam por aí. A culpa dos jovens está presente apenas nas imagens; o discurso como um todo não se preocupa tanto em manter essa identidade imagética.

Não vejo isso como algo que acaba denegrindo e comprometendo sua totalidade. Mesmo com esses possíveis problemas vistos de bate-pronto, Juventude Transviada (1955) não embrulha sua qualidade nem desgasta a atemporalidade de seu discurso lógico. Claro que a diése do longa acaba se perdendo com o tempo — alunos no ensino médio usando blazers, mocassins, topetes para cima estilo Elvis Presley. Ou seja, os cenários, os espaços e os itens que compõem a mise-en-scène, infelizmente, não entram nesse ponto do discurso. Mas tudo acaba funcionando muito bem nessa alegoria que é vista com maus olhos pela sociedade. No fim das contas, Juventude Transviada (1955) penaliza bem mais os adultos (o cabeça do lar) do que os próprios jovens que estão por aí ganhando o mundão com suas mentes superficiais.

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