Crítica - Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice

Ontem à noite, acabei assistindo ao clássico Beetlejuice (1988), e, em 2024, nos deparamos com uma repaginada nesse arco mórbido, cômico, crítico e pueril. Acabei chegando a uma conclusão: uma soma que não diz respeito apenas ao Beetlejuice Beetlejuice, lançado neste ano, mas sim à aura que Tim Burton criou e reproduziu como estética em seus projetos.

Uma das sensações mais marcantes do filme de 1988 é uma quase incapacidade, por meio dos dispositivos existentes na época. Sinto que Burton quer fazer algo a mais do que as próprias limitações temporais permitiam. Por outro lado, a obra se mantém inventiva e autoral. Agora, por outro lado, ela cai naquele desejo barrado pela própria época de realização.


Costumo sempre falar que é uma responsabilidade tremenda da parte dos envolvidos em um projeto que tem como base um anteprojeto primário. Da mesma maneira que os realizadores têm com documentários, ou algum filme que narre acontecimentos marcantes na humanidade e na sociedade. Soa engraçado, mas Beetlejuice Beetlejuice (2024) faz parte de um filme que precisa manter uma observação escrita em negrito que deve ser lida com muita atenção e cautela.

Vejo um preconceito bem desnecessário da parte de algumas pessoas em desconsiderar as virtudes do clássico por ser um trabalho que se vende, visualmente falando, como ingênuo, infantil. Acho que opiniões como essas são muito por causa de uma infância marcada pelo filme. Ou seja, o cinéfilo cresce e não consegue enxergar o nostálgico como poético, pioneiro.


Agora, já desfaço apontamentos como tais, pois uma experiência é a formação de uma avaliação própria sobre determinado assunto. E, por mais que o tempo seja o fator determinante dessas mudanças, ele não deve barrar resoluções por uma memória, um amor.

A aguardada sequência de Tim Burton, agora, tem sua trama girando em torno de Lydia Deetz (Winona Ryder), que agora é mãe. Sua filha, Astrid (interpretada por Jenna Ortega), herda os mesmos dons de sua mãe médium. Por ironia do destino, a família se vê envolvida em novos problemas. Mas, se existe um problema que envolve distópicas sobrenaturais, é só dizer "Beetlejuice, Beetlejuice, Beetlejuice", não é mesmo?


Sempre achei interessante como ambos são trabalhos que costuram de fora a fora essa malha comprada por uma ingenuidade estética. Ao mesmo tempo que Burton deseja criar uma aura própria para os filmes, com sua caligrafia cinematográfica, eles não deixam de ser obras que trazem uma seriedade por meio dessa infantilidade imagética.

É por isso que existe uma remoção realista nessa atmosfera que tange os espaços. Em outras palavras, o próprio cineasta apaga com borracha um sensorialismo corriqueiro, assim criando uma plasticidade ficcional e reverberando a seriedade por meio de um discurso cômico, pós-morte — pregações essas que são contornadas por esse ar cômico e plástico da parte de Burton.

É claro que a maioria dos filmes tem como objetivo explorar os seus personagens como andar narrativo, isso não é segredo para ninguém. Mas também existem filmes que esquecem esses dados costumeiros para que o espectador seja o protagonista. Obras que ignoram sua diegese para que o outro lado da parede fique quebrado; assim, o outro lado vê e interpreta a moral de um filme.

Beetlejuice Beetlejuice (2024) entra na lista de manipular muito bem os seus personagens para que o andamento narrativo não seja maçante para quem está assistindo, e sim confortante. Só que, aqui, em Beetlejuice Beetlejuice (2024), esse dilema não é tão bem articulado.


O que não desce é o modo em que Burton espetaculariza certos personagens. Um bom exemplo disso é a vilã interpretada por Monica Bellucci, que não tem tempo nenhum para que essa ressurreição triunfante seja recompensada. Ficou parecendo que o longa-metragem acabou se perdendo nesses arquétipos oníricos. Mas, por outro lado, essa gamificação característica é quebrada pela má evolução de personagens que não foram tão bem aproveitados.

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