Crítica - Limite (1931)

Eu não tenho dúvida de que Limite (1931), dirigido por Mário Peixoto (1908-1992), é um dos abridores de caminho para um dos estilos e formas audiovisuais que são, de forma mais totalizante, um dos caminhos mais fáceis para trilhar e começar a desenvolver uma malícia, um tato amplo e com maior facilidade para interiorizar filmes, interpretá-los e senti-los, do que o cinema surrealista conectado nesse longa-metragem do Peixoto. E todo esse lado mais virado para o subconsciente funciona muito bem quando pensamos de onde veio o ancestral dessa zona de liberdade estética que extravasa os limites daquilo que imaginamos como comum. É claro que o cinema teve uma influência muito grande de vários saberes, mas, se aplicarmos esse parâmetro dentro do universo cinematográfico, Limite (1931) foi um dos causadores dessa futura dor de cabeça de imagens que escapam de uma lógica.

Duas mulheres e um homem estão à deriva no meio do mar, presos pela vastidão. Eles, os personagens, são atormentados por vislumbres de seus fantasmas do passado, revelados por fluxos representacionais cobertos por uma aura onírica.

Recomendaria facilmente esse filme para que o Gaspar Noé compreendesse, de uma vez por todas, que o experimental não é algo que deve ser feito com rabiscos. Quer dizer, às vezes o cineasta pode aloprar, mas tudo deve manter uma concordância com os manejos linguísticos impostos pelo autor. No entanto, agora o Peixoto não joga para o lado esse exibicionismo com tais domínios técnicos, com a fotogênia. Ou seja, um dos estilos de linguagem que domina predominantemente é esse desejo criado imageticamente, no intuito de marcar o mesmo sentido de uma mesma essência. Em linhas gerais, o longa não é meramente complexo justamente por ser algo "mais autoral" ou diferentão; seu sensorialismo é esculpido com desejos poéticos, ordem e êxito.

A fotogênia presente cria uma expressividade plástica que se dá pela mise-en-scène fundida aos corpos e à matéria. Os personagens são parte desse plano estético quando percebemos que eles se tornam parte dessa corda pictórica. E essa tal corda amarrada vem muito de uma afecção da imagem, e é nisso que Limite (1931) vai se escorar na criação de um discurso ideológico que se torna bem covarde quando ameaça numa suposta pregação, mas depois esquece tudo. É bem ousado da parte dele quando pensamos que um dos tópicos principais poderia ser predominante, se levarmos para algo que pende a ideologias em um Brasil no início dos anos 30.


Agora, se transportar essa linha de raciocínio a um desejo pelo bem maior da arte, por outro lado, se torna bem provedor da sua parte quando tudo isso é ignorado para futuras discussões a respeito de Limite (1931). De grosso modo, ele não aplica algo que desce rasgando, que não é tão bem digerido por certas cabeças. E também seria panfletário. Seus aparatos audiovisuais estão muito mais preocupados numa relação muito mais latente com o sensorialismo do que um parágrafo que sintetiza, de forma sistemática, as lacunas de Limite (1931).

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