Crítica - Todo Tempo que Temos (We Live in Time)
O tempo, se for seguido por um caminho que vá pelo ritmo interno, pode soar desrespeitoso com o espectador, se aqueles acontecimentos forem articulados como um tempo que não consiga definir bem por onde trilhar, servindo apenas como peso morto. O corpo do público acaba pesando com as horas, as costas doem pela posição em que estamos sentados. Logo, se for levado por uma dialética que englobe o espectador como um membro do todo, ele faz parte do tempo, mas o seu tempo fica à mercê.
Requer um controle muito mais tátil do que os demais usos, pois é onde o ritmo das ações decai para que o ritmo dessa diegese se sobressaia. E, é claro, como todo uso de linguagem sem nenhuma finalidade, pode sofrer por uma vaidade quando o autor não consegue definir muito bem uma ordem das ações, ações essas que deixam de ser fechadas para que elas sejam expostas como o resultado dessa poética, tornando-se uma armadilha que pega uma intenção acadêmica que está ali por pura pose.
E, aqui, o tempo ganha uma importância tão significativa, com uma narrativa não cronológica, que acaba rompendo fundamentos dos meios utilizados pelo gênero. Não são visualmente notáveis as suas elipses; elas se tornam imperceptíveis para que esse tempo tenha uma suavidade maior do que teria se fosse abordado por um formalismo que picota a imagem e a joga para um determinado período.
O drama e o romance, em boa parte, estão ligados por alguns clichês que, com o tempo, formaram uma fórmula que se repete a cada filme do gênero. Esses filmes acabam se tornando comodistas, dependendo da própria construção que o gênero formou com esses elementos com o passar dos anos, ou seja, são filmes que se encostam nesses elementos que tangem o gênero. Uma parcela significativa faz uso de uma melosidade que não é problemática, mas, quando é preenchida por um catálogo onde tudo se mantém igual umas com as outras, acaba se tornando previsível demais.
É muito interessante como a realização da montagem está entrelaçada com os personagens em si. Ela torna e faz um processo muito mais proveitoso do que arrastar (o que seria interessante, mas não se enquadra com as ações). Acaba se tornando um manejo poético de algo que, se fosse feito ao contrário, comprimiria ou até encurtaria esse tempo (que já é escasso).
Ainda que o Tobias (Andrew Garfield) tenha uma tímida e dolorosa discordância a respeito dos desejos terminais de sua companheira, a montagem está de mãos dadas com ele e concordando com o desejo de Almut (Florence Pugh). O sensorial e a construção poética feita por essa aceleração do tempo pesariam se fossem carregados por planos que desfigurassem o tempo de Almut. Os planos estão ligados por um sentimento atual, vivido pelos personagens, mais do que por uma ideia propriamente autoral.
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