Postagens

Crítica - As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath)

Imagem
Mesmo que As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath), lançado em 1940, estabeleça sua verossimilhança de modo claro, o discurso que outrora poderia acabar soando como complexo (para os leigos quando o assunto é política) não acaba dificultando essa nitidez apenas como uma forma de expressar resultados edificadores, resultando num quebra-cabeça de peças que são espalhadas pelo tempo, pelo vento. Tendo em vista a alegoria que o filme demonstra, poderia cair naquela fórmula "cabeçuda" de algo que, embora sua premissa seja atingir as grandes massas, vende apenas um vigor audacioso da parte do próprio Ford. Vale lembrar que boa parte de sua poesia é articulada com muita modéstia, com elementos muito simples: a natureza, a brisa fresca que bate no rosto de alguém que está no meio do campo, os animais, a felicidade que não se escora num acúmulo exacerbado de capital. Ford sabe usar de forma controlada esses espaços simplistas,

Crítica - Juventude Transviada (Rebel Without a Cause)

Imagem
O cinema não tem a obrigação de ficar de olho no filho de ninguém. A arte não tem como objetivo educar obrigatoriamente um indivíduo (educação é de berço, de nossas casas, dentro de um ambiente familiar). É uma tarefa extremamente fácil, para o deslize, repassar os obstáculos da vida de um indivíduo. Só que, desde sempre, uma das maiores ambiguidades de se narrar são os jovens rebeldes, aqueles que são especialistas em arrumar problemas, construir badernas, fazer tempestade em copo d'água. Indivíduos que não pensam duas vezes antes de decidir escolhas que custarão a paz de seus pais. Com eles, existe sempre uma cartilha na manga, muito manjada e bem mais prática do que horas e horas na procura de soluções para problemas. Tem um livro chamado A Juventude Vai ao Cinema, de Inês Assunção de Castro Teixeira, José de Sousa Miguel Lopes e Juarez Dayrell. O livro é básico e direto ao ponto naquilo que ele deseja repassar como bag

Crítica - Um Tiro na Noite (Blow Out)

Imagem
Penso que é necessário que o cinema morra com a chegada limite de seu próprio estilo temporal. Eu acho que não precisa cismar, fazer apologias ao ódio para essa "extinção" de certos movimentos e estilos cinematográficos, mas sim, para que a arte continue expandindo e ganhando novos rumos com o nascer de novas mentalidades no ramo de direção. Virou um passeio quando está chegando perto da virada de uma década que, após uma certa saturação estética de algumas obras e com o nascimento de novos nomes na arte de direção, essas recentes limitações engenhosas dão lugar agora para uma nova onda de pegar essas referências e repaginá-las. É claro que, mesmo que essas mudanças sejam tidas como uma renovação, elas não abrem mão de também ser uma revitalização do clássico. Se levarmos isso em conta, é muito gostoso e agradável pela nostalgia que as imagens irão criar com essa nova onda que cresce. Boa parte dessa paixão envolvida

Crítica - Armadilha (Trap)

Imagem
Ao mesmo tempo que o M. Night Shyamalan é um cara que recebe aplausos de pé por um público que curte filmes menos cabeçudos e mais práticos, ele também acaba se tornando um dos maiores motivos de xingamento — só que agora, de uma turminha de cinéfilos que se apresentam como: "adeptos de um cinema cult". Essa divisão a respeito do gosto ficou muito mais diluída com a chegada de A Dama na Água (2006), um filme que é recebido com muito amor e também com muito ódio do outro lado dessa divisória. Uma boa parte de toda essa implicância com o longa é que foi um filme que abriu uma nova perspectiva sobre o cinema de Shyamalan, e, sabemos que em toda mudança drástica existe aquele que vai abraçar, de modo geral, degustar e digerir todas as nuances dessa nova fórmula — como também uma certa parte que não vai conseguir engolir, se engasgando com todo esse novo olhar que agora faz parte de uma construção que o autor acabou crian

Crítica - Vidente por Acidente

Imagem
Penso que todo o peso crítico que é colocado sobre as costas dos trabalhos audiovisuais, que têm como objetivo atingir um bloqueio emocional, quebrando essas essências que estão impregnadas num determinado local, construída logo numa primeira impressão com as imagens, são situações que foram e ainda estão sendo levantadas com muito mais agilidade e intensidade com o acordar da cultura do cancelamento nos dias de hoje. Um problema que muitas pessoas pensam ser algo da nossa contemporaneidade, — sendo que não é tão bem assim que as coisas funcionam. Por mais que muitos imaginem que isso seja alvo de nossa geração, — vale lembrar que, — desde sempre, o homem vasculhou problemas e pretextos para derrubar aquilo que trará uma inventividade renovadora, que irá prosperar para um avanço linguístico na arte de direção de filmes, na arte da interpretação e também no processo crítico. Mesmo que tal cultura seja muito mais presente em nossos dias atuais, não é preciso voltar tanto temp